29 março, 2013

Ausência


Faltam-me palavras para descrever este vazio. Falta sempre alguma coisa, um alimento essencial para as proteínas equilibrarem a saúde de um corpo ou um batom vermelho a qualquer rapariga de forma a melhorar o estado dos lábios.

Um.
Dois.
Três.
Quatro.
Cinco.

Com espaçamentos bem sentidos nas minhas pulsações. De repente é como se todos os acontecimentos estivessem parados, a minha cabeça é um globo parado no meio de todas as horas. Costumam dizer-me para escolher quais as melhores horas em todos os meus dias e não consigo, neste momento, escolher qualquer uma. Cheiram a fumo. Graças à paragem e à ausência de palavras, que têm como destino a descrição desta falta de alguma coisa no meu peito, tenho uma vontade extraordinária de beber uma ou duas garrafas de vinho branco. Nasce em mim um desejo extremo, com uma intensidade igual à ânsia por álcool, de vomitar frases sem sentido nenhum e começar a chorar. Por não estar há demasiados dias na minha casa na capital, por não ter maioria dos seres humanos que conseguiram retirar alguma parcela de amor da minha alma. Passam-se seis, sete, oito dias e não aguento mais estas quatro paredes. Falta-me sempre alguma coisa. A mim, a ti ou ao outro ser humano que está a caminhar na rua. É isto: falta-me alguma coisa.
Desaparece chuva, estás a dar comigo em doido. Sinto a mergulhar nos meus pensamentos, tão férteis nestes dias de descanso.

24 março, 2013

A curta carta que me esqueci de deixar ao fundo das tuas escadas


Estou curioso para tocar nos ossos que protegem o teu coração. Costumam chamar caixa torácica. É um nome demasiadamente frágil para uma fortaleza, essa que protege o nosso órgão mais poderoso e reconhecido por inúmeros artistas. Quero oferecer-te o meu.
Engana-te se pensas que te vou deixar ao fundo das escadas do teu prédio. Precisa de ser polido todos os dias, como o ia deixar para qualquer ser humano lhe colocar os olhos em cima? Vou antes deixar as minhas máscaras e um pouco das minhas mentiras à porta da tua casa, já que tens a coragem de destruir o meu lado maléfico. E as minhas poções mágicas? Essas levo-as na minha mala, assim podemos lançar gargalhadas por alguns anos.

19 março, 2013

Ao mostrar-te o meu amor por ti, senti a minha alma a ser sugada pelo teu beijo


Pediste-me para escrever-te o que ia na minha alma e para te enviar, apenas a ti por não quereres partilhar as minhas visões sobre ti com mais ninguém, os meus desenhos sobre os contornos da tua alma podem só permanecer connosco como em qualquer relação. É esse o meu pensamento, desejo só entregar-me a ti como nunca desejei com mais ninguém. É curioso escrever-te a ti, com a vontade de sublinhar por debaixo das palavras “a ti”, riscar e fazer traços para manter as palavras – é isso que as crianças fazem nas folhas brancas, desenham, despejam uma pequena quantidade do subconsciente e colocam a inocência no papel, essa caraterística esgotável com o passar do tempo. Ao colocar palavras num papel destinadas aos teus olhos, às tuas leituras, equivale a entregar-me como costumava fazer em oração, de todas as vezes em que entrava numa igreja. Não te questiones sobre este assunto, nunca trago à superfície da minha pele o assunto sobre a religião para não amargar a minha saliva, de forma a não ter veneno a correr por escassos minutos nas minhas veias. Pediste-me para escrever e faço-o agora como se fosses o meu livro em branco.

Tenho a fantasia de me beijares a ponta dos dedos, de colocares a língua na minha pele e manteres para sentir as pontas da minha alma. Tenho esta mania de pensar nas almas como um material quente, as fogueiras que faço na minha casa em Coimbra, a temperatura extremamente alta no meu quarto graças ao aquecedor elétrico ou a água a ferver que cai do meu chuveiro. Ofereces essa elevação aos meus comportamentos, nas alturas em que olho para o relógio e não consigo realizar mais nada – tenho demasiados projetos inacabados e tenho receio de este que te escrevo fazer parte da longa lista deixada em cima da mesa. Esses projetos materializam-se em objetos reais, colocados em cima da minha secretária ou no fundo do meu computador, aqueles documentos deixados em aberto nas pastas digitais. Não existem daqueles alertas auto programados, capazes de nos esbofetear para regressarmos às nossas palavra, às ideias, às imagens construídas por palavras em frente ao computador – não ultrapassam as palavras por não saber mexer nos programas informáticos ou em algo relacionado com a construção de websites, não sou um bicho da informática.


Bebemos a essência das pessoas, as entranhas de quem amamos profundamente. Banalizamos um gesto realizado sem uma intenção de troca. Ofereço-te as minhas palavras sem querer ouvir os gritos das transparências da tua alma, viajante através dos tempos e a planear trocas de corpos. Gostava de te mostrar a força com que acredito na teoria das viagens das almas e na fraqueza que a fé católica no meu peito, no fascínio que sinto ao pensar numa viagem da minha alma, essa que ultrapassa as minhas simples vivências e experiências terrenas, por todos os lugares imagináveis. É dessa matéria que se constroem os sonhos. Ultimamente sonho com tão pouco, a minha alma só materializa forças para viajar em paragens do meu coração, como aconteceu no início deste ano que está a terminar. Não me lembro dos meus sonhos recheados de brilho e luzes brancas e esse é um dos meus problemas, queria olhar para os pirilampos que invadem as imagens fabricadas pelo meu coração e pelo meu corpo. Esses bichos luminosos apareceram no meu inconsciente por ter a tua presença fixada nos meus ossos brancos e protegidos dentro dos meus ossos húmido. Tenho agora em mim a imagem de um sacerdote, preso em amor a um Deus maior e magnífico, a beber o sangue dentro de um cálice. De sacrifícios, de paixão ao ser humano mais desfeito. Vejo-me a beber o teu sangue, num ato de intimidade. Oferece-mo, bebemos todos os dias a essência dos outros. A minha seriedade, as expressões que saem da minha boca, os meus conselhos vestem a tua imagem, os teus comportamentos. As minhas mãos pressentem os teus cantos, a força da tua voz ao sorrir e gargalhar no horizonte. 

Pedes-me para escrever e a estas horas pressinto que termino o que tenho para te dizer. Há um Sol demasiado preguiçoso a dar-me ordens, para me recolher no meio do meu casulo construído por conhecimentos. Na era da informação, houve alguma pessoa a pensar na espécie de solidão provocada pelo conhecimento em demasia? Isso passa-me pelas veias, esse conhecimento da natureza humana, da sociologia da informação e penduro os conhecimentos como espanta-espíritos na minha casa. Ouço o barulho dentro do meu coração, esse isolamento no quarto de Coimbra. Sou suficientemente lúcido para saber que os meus amigos estão demasiadamente espalhados por todo o país – é esse o grande defeito da geografia. Tenho todo este calor por ti, por isso bebe-me, aconchega-te a mim e aos meus braços magros. É nestas alturas que gostava de ter um pouco mais de gordura para vestir-te e proteger-te de todo o frio que possa alcançar-te. Não quero ameaças, mesmo as provenientes da Natureza.

02 março, 2013

Rascunhos das dúvidas em relação ao futuro e à paixão (que vou sempre ter por ti)



Perco-me nas minhas fantasias e na realidade que tende a colocar-se à minha frente, para logo de seguida conseguir empurrar e assassinar nas escadas do meu prédio. Desenho centenas de fantasias na minha mente e uma força exterior ao meu corpo, à minha existência vulgar dá-me uma única realidade. Trata-se de uma doce condenação, nunca vou conseguir dispor da minha realidade. Despejo frases sem sentido para quem me lê devido à intensidade da realidade nos meus pensamentos nos últimos dias, por não conseguir aguentar mais a pressão colocada em cima do meu coração. Quando começo a estudar novamente as histórias criadas pela Disney, como a Bela Adormecida, em que adoro os cabelos louros da Bela e o terror incrustado no comportamento da Malévola, como na aventura da Alice por um mundo das maravilhadas criadas pela sua cabeça, quando esta atenção começa novamente significa que algo, bem nas profundidades da minha caixa torácica não se encontra são, livro de doenças filosóficas. Desenho centenas de fantasias e não posso desenhar nenhuma realidade.

Onde permanecem os meus pés quando quero dançar no meio da rua, sem me importar com qualquer ser humano que passe nesse instante ao pé de mim? Soluço no chão do meu quarto, em Coimbra, por não conseguir colocar os meus desejos na prática. Costumo pensar que só ao colocar um desejo em carne e ossos humanos é que consigo viver um pouco mais em paz. Nestas semanas tenho deixado o meu nervosismo comandar-me, por me perder no meio da fantasia proclamada na minha cabeça e na realidade colocada na minha casa em Lisboa. Ao dançar e sorrir na sala não tenho capacidades de suportar o esquecimento da brasileira em lavar a loiça dias seguidos, dói-me a respiração por ver tantos detalhes desalinhados quando o meu mundo devia ter um feitiço de perfeição, pronto a ser pedido por todos os outros seres humanos. Sonho tantas vezes em arrumar o armário alheio, desejo arejar todas as roupas que não me pertencem e necessitam de uma arrumação. Mas pergunto-me se não será um defeito extremo esta urgência em tornar tudo branco e brilhante. Como se estas duas caraterísticas pertencessem à noção de perfeição contida no imaginário dos génios, dos filósofos, nunca no cérebro dos cientistas ou matemáticos. O amor existe? A vontade de permanecer eternamente ao lado de uma alma, já que os corpos são consumidos ao fim de algum tempo, existe?

No meio daquelas fantasias são estas as perguntas, rabiscadas mais acima e anteriormente, as capazes de me fazer tropeçar no meio do quarto, o meu lugar sagrado. Perguntei-te a ti, há alguns dias se éramos capazes de ter uma relação como no início. Mas quem é que gosta de ser enganado? Diria num primeiro momento, os meus pulmões. Fumar apenas de vez em quando não os torna mais saudáveis, nem aumenta o meu prazo de validade. Depois o coração, por querer romance na hora em que me encontro numa transição. De paixão ao amor, do fogo para as águas calmas do rio. Ensina-me como suportar a metamorfose nos momentos em que os meus pés querem dançar no meio da rua. Sou incapaz de conjugar a minha fantasia com a nossa realidade, especialmente em fases novas.  Nós existimos, meu amor? A solidão encontra-se quente, dúvida da sua existência quando começo a pensar no presente. Deixei de colocar o futuro a longo prazo nos meus pensamentos por ser simplesmente humano, sem capacidades de adivinhação. Resto eu, restas tu, restam os meus e os teus amigos, a nossa família também colocada na equação. Quero respirar ofegantemente por não conseguir acalmar, faz-me isso. Ensina-me, dou-te a conhecer tantas possibilidades e gestos todos os dias. Moro todos os dias comigo, estou condenado.