Gostava de aperceber-me das minhas
ausências. Para com a escrita, para com as pessoas, com as viagens, com os
lugares ou até mesmo com os objetos já que existem horas em que todo circulo
embate no meu corpo mas deixem-me explicar. Imaginem um pequeno ponto dentro de
um círculo, com uma seta a rodar sempre na mesma direção, em voltas infinitas.
Mais uma volta, o ponto negro no meio do nada em que necessita de tocar em
novas almas, tecidos completamente reluzentes deixados num qualquer lugar
abandonado, cheiros de cabelos castanhos, ruivos ou louros para ativar as
sensações. Uma segunda volta e mais uma e uma outra, num constante movimento à
medida que o ponto continua parado no meio. Tinha gosto em aperceber-me das
pequenas ausências, na minha condição de ponto final no meio da folha branca e encurralado
pela linha circular com uma seta no início (ou será no fim, pergunto aos botões
das camisas que costumo vestir quando acabo de tomar um duche). Ao observar as
voltas da única linha, transportadora de todas as experiências a passar ao meu
lado, não tenho olhos castanhos e perfeitos. Sinto-os unicamente brancos e
coloco as minhas mãos para sentir a minha própria, carregadas de experiências e
sensações individuais. O individualismo, tão presente em todos os seres
humanos.
Passam-se semanas e vou absorvendo todo o
vento que as voltas da seta me transmitem, unicamente uma sensação gelada ou
quente, depende sempre do tempo que se faz sentir na rua. (Dou as minhas vénias
pelo aparecimento do Sol e do bom tempo, a relembrar a primavera do ano
passado). Gostava mesmo de me aperceber das minhas ausências para não fazer tão
mal aos meus pulmões ou às minhas cordas vocais fortes, prontas para gritar.
Estou à espera do sinal, de qualquer coisa com origem nas pessoas, nas viagens,
nos lugares ou objetos que tenho guardado em casa. A queda de um livro nos meus
pés ou na minha cabeça. Mas talvez não precise de um comportamento tão banal,
as minhas cordas vocais a qualquer momento vão explodir em segundos e começo a
dançar para as paredes do meu quarto observarem e colocarem um sorriso. A
linha, com uma seta no início, vai virar-se na minha direção e perfurar o meu
corpo. Agora limito-me a absorver e a descansar nos meus lençóis brancos, com
algumas lágrimas e gargalhadas pelo meio. Apercebo-me, ao despejar um pouco da
ausência e gelo, mesmo nestes dias primaveris.
Deixa-te de merdas, por favor - digo para mim mesmo.
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