Perco-me nas minhas fantasias e na realidade
que tende a colocar-se à minha frente, para logo de seguida conseguir empurrar
e assassinar nas escadas do meu prédio. Desenho centenas de fantasias na minha
mente e uma força exterior ao meu corpo, à minha existência vulgar dá-me uma
única realidade. Trata-se de uma doce condenação, nunca vou conseguir dispor da
minha realidade. Despejo frases sem sentido para quem me lê devido à
intensidade da realidade nos meus pensamentos nos últimos dias, por não
conseguir aguentar mais a pressão colocada em cima do meu coração. Quando
começo a estudar novamente as histórias criadas pela Disney, como a Bela
Adormecida, em que adoro os cabelos louros da Bela e o terror incrustado no
comportamento da Malévola, como na aventura da Alice por um mundo das
maravilhadas criadas pela sua cabeça, quando esta atenção começa novamente
significa que algo, bem nas profundidades da minha caixa torácica não se
encontra são, livro de doenças filosóficas. Desenho centenas de fantasias e não posso desenhar nenhuma realidade.
Onde
permanecem os meus pés quando quero dançar no meio da rua, sem me importar com
qualquer ser humano que passe nesse instante ao pé de mim? Soluço no chão do meu quarto, em Coimbra,
por não conseguir colocar os meus desejos na prática. Costumo pensar que só ao
colocar um desejo em carne e ossos humanos é que consigo viver um pouco mais em
paz. Nestas semanas tenho deixado o meu nervosismo comandar-me, por me perder
no meio da fantasia proclamada na minha cabeça e na realidade colocada na minha
casa em Lisboa. Ao dançar e sorrir na sala não tenho capacidades de suportar o
esquecimento da brasileira em lavar a loiça dias seguidos, dói-me a respiração
por ver tantos detalhes desalinhados quando o meu mundo devia ter um feitiço de
perfeição, pronto a ser pedido por todos os outros seres humanos. Sonho tantas
vezes em arrumar o armário alheio, desejo arejar todas as roupas que não me
pertencem e necessitam de uma arrumação. Mas pergunto-me se não será um defeito
extremo esta urgência em tornar tudo branco e brilhante. Como se estas duas
caraterísticas pertencessem à noção de perfeição contida no imaginário dos
génios, dos filósofos, nunca no cérebro dos cientistas ou matemáticos. O amor existe? A vontade de permanecer
eternamente ao lado de uma alma, já que os corpos são consumidos ao fim de
algum tempo, existe?
No meio daquelas fantasias são estas as
perguntas, rabiscadas mais acima e anteriormente, as capazes de me fazer
tropeçar no meio do quarto, o meu lugar sagrado. Perguntei-te a ti, há alguns
dias se éramos capazes de ter uma relação como no início. Mas quem é que gosta
de ser enganado? Diria num primeiro momento, os meus pulmões. Fumar apenas de
vez em quando não os torna mais saudáveis, nem aumenta o meu prazo de validade.
Depois o coração, por querer romance na hora em que me encontro numa transição.
De paixão ao amor, do fogo para as águas calmas do rio. Ensina-me como suportar
a metamorfose nos momentos em que os meus pés querem dançar no meio da rua. Sou
incapaz de conjugar a minha fantasia com a nossa realidade, especialmente em
fases novas. Nós existimos, meu amor? A solidão encontra-se quente, dúvida da sua
existência quando começo a pensar no presente. Deixei de colocar o futuro a
longo prazo nos meus pensamentos por ser simplesmente humano, sem capacidades
de adivinhação. Resto eu, restas tu, restam os meus e os teus amigos, a nossa
família também colocada na equação. Quero respirar ofegantemente por não
conseguir acalmar, faz-me isso. Ensina-me, dou-te a conhecer tantas
possibilidades e gestos todos os dias. Moro todos os dias comigo, estou condenado.
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