Há
curiosidades que nascem nos meus pensamentos e não me conseguem largar. Acabam
por tornar-se pequenos pesados, o meu subconsciente faz questão de trabalhar
todas as noites para me assustar mais um pouco, e não escapam até os exteriorizar.
Se mexer os meus lábios com esses pensamentos a mergulharem nos meus neurónios
sou capaz de jurar que digo serenamente obsessão,
escuridão. Duas palavras terminadas
em ão que dançam comigo todas as
noites, a olharem para o meu corpo adormecido na cama. Não há qualquer tipo de
música tranquilizadora para os meus ouvidos e para a minha alma, alguma palavra
que transpareça exatamente a minha intenção. Nem os meus olhos castanhos ganham
um pouco mais de vivacidade quando estou a sorrir para esses pesadelos, para as
curiosidades aprisionadas na minha cabeça. A minha voz teima em ganhar vida
quando o silêncio e a escuridão se apoderam do meu quarto, chego mesmo a jurar
que não há nenhuma presença nesse curto espaço e efetivamente não há, tenho as
minhas paranoias a incendiarem-me a mente.
Tenho-te
a ti nos meus pensamentos, à meia-noite que todos os relógios marcam no meu
país e apercebo-me de que algumas senhoras, à procura de uma encarnação
magnífica de Deus poderoso, já deixaram os sapatos em qualquer escada para ser
encontrado. Quando o coração de um ser humano teima em bater violentamente, em
remexer nos órgãos do corpo, o cérebro não para de desenhar o rosto de uma
outra pessoa. Essas damas premeditam os passos, descalçam-se para o feitiço de
um final feliz continuar. Houve um idiota qualquer que decidiu contar uma
história e propagou-se, que nem a Bíblia, em que só as tolas acreditam e, a
partir desse momento, só há espaço no corpo para a outra pessoa, o outro ser
humano, o outro ser humano. O outro, o outro, o outro que se propaga como um
vírus. Nem há oportunidade para o egoísmo asfixiar um pouco o sorriso da nossa personificação
de amor, neste caso da minha personificação do que é amor. Não digo que o amor,
definição e palavra com conceitos tão complexos, não esteja colocado nos meus
animais (de estimação), na minha roupa, nos meus objetos, nas minhas mãos e até
no meu cabelo mas o que seria de mim sem ter um espécime, ser humano e com
semelhanças a tantos outros seres, a quem entregar o meu amor e conforto? Teria
um egoísmo tão forte e elevado caso deixasse de pensar no outro ser humano, se
não me deixasse levar pela minha tentativa de encontrar a personificação de
amor puro?
Sonho com as minhas mãos a mudarem um rosto, uma troca dos
lábios, a minha unha a passar por essa leve carne e a abrir feridas para o
sangue ser livre, os meus dedos a entrarem nuns olhos claros, cheios de brilho
e azuis. Obsessão, escuridão e um pouco de frustração. Só
me posso libertar destas curiosidades, das trocas que posso fazer num corpo,
através dos sonhos. Os cirurgiões podem fazer estas alterações mas só com a
devida autorização da alma que comanda o corpo – mas nós comandamos mesmo o
nosso corpo, pergunto-me a mim mesmo. Tenho esta imagem no fundo do meu
telemóvel, o corpo mente, e enquanto
não a compreender não vou retirá-la. Acontece com todas as minhas imagens que
tenho no telefone, somos tão geração do século XXI que nem me dou ao trabalho
de desenhar essas impressões e imagens. Basta clicar num website recheado de imagens para o nosso sonho aparecer,
escarrapachado para vermos. Os seres humanos são mesmo iguais, interrogo-me
mais uma vez. Existia perfeição caso
tivesse liberdade de mudar um nariz, qualquer tipo de cabelo e aborrecimento a
correr-me nas veias. Neste momento apetece-me levar a minha personificação para
algum lugar e deixar que faça de mim o que quiser. Consome os meus olhos, os
meus lábios, os meus cabelos mas deixa-me a alma para continuar a viver. Ainda
há um fio de esperança para os tolos, gosto de acreditar.
Já não
soltava as minhas palavras há tanto tempo. Neste momento sinto uma ferida, a
minha personagem escritor gosta de sofrer um pouco, alguns minutos por dia. A
minha alma continua com um sorriso genuíno e bebe um pouco de vinha branco,
acompanhada. Nunca gostei de encarar a vida como uma escuridão divina e o mais curioso é o facto de alguém, que não me conhece como pessoa, pensar que estou num sofrimento desgraçado.
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