Não escrevo há muito tempo e a sensação que
me fere o coração, de uma forma violenta e descoordenada, é a forma como não
necessito das palavras para demonstrar o meu estado de espírito. Só o silêncio
já é indicador de algum sinal fora do comum, este querer circular no meio das
ruas sem nada à volta. Desejo, nos meus sonhos, de estar sentado num espaço
branco com luz do mesmo tom a acompanhar, sem objetos ou seres vivos, mesmo que
sejam árvores, um lago, mar ou rio. Tenho, nesses sonhos, uma caneta negra ao
pé de mim e a liberdade em desenhar o que me vai no coração. De me deixar levar
e desenhar, riscar, desenhar, riscar, desenhar, riscar e voltar a desenhar mais
uma vez nesta infinidade, em que não há buracos nem poços. Mas o que vai na
cabeça de um ser humano quando só há vazio à sua volta? Silêncio, silêncio,
silêncio, silêncio, silêncio, silêncio, silêncio, silêncio, silêncio. Custou-me
mesmo escrever tão seguidamente estas palavras mas é a verdade.
E como vi num livro do José Luís Peixoto, em
duas páginas li unicamente a palavra quero
morrer. Mas da forma como estou só vou pedindo a Deus, com a minha caneta
preta na mão, deixa-me morrer. Deixa-me morrer, deixa-me morrer, deixa-me
morrer, deixa-me morrer, deixa-me morrer, deixa-me morrer, deixa-me morrer,
deixa-me morrer, deixa-me morrer. E tenho de escrever mesmo estas palavras, os
meus dedos já me estavam a começar a doer por estar a fazer o mesmo movimento
no teclado, as mesmas teclas a serem pressionadas. Quero morrer para acordar
como novo e sinto que estou nesse processo. Deixa-me morrer sem ninguém ao meu
lado, faço este pedido mais especificamente para não levar nenhum corpo ao meu
lado, basta os meus ossos e o meu corpo – a caraterística que um amigo meu me
apontou sempre nos meus textos, que falo muito sobre ossos e sangue. Quem sabe,
não é? Não escrevo há muito tempo e espero não continuar assim mas tenho a
certeza de que esta paragem me vai fazer bem, todas acabam por fazer.
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