01 junho, 2013

Quando deixo de escrever temporariamente


Não escrevo há muito tempo e a sensação que me fere o coração, de uma forma violenta e descoordenada, é a forma como não necessito das palavras para demonstrar o meu estado de espírito. Só o silêncio já é indicador de algum sinal fora do comum, este querer circular no meio das ruas sem nada à volta. Desejo, nos meus sonhos, de estar sentado num espaço branco com luz do mesmo tom a acompanhar, sem objetos ou seres vivos, mesmo que sejam árvores, um lago, mar ou rio. Tenho, nesses sonhos, uma caneta negra ao pé de mim e a liberdade em desenhar o que me vai no coração. De me deixar levar e desenhar, riscar, desenhar, riscar, desenhar, riscar e voltar a desenhar mais uma vez nesta infinidade, em que não há buracos nem poços. Mas o que vai na cabeça de um ser humano quando só há vazio à sua volta? Silêncio, silêncio, silêncio, silêncio, silêncio, silêncio, silêncio, silêncio, silêncio. Custou-me mesmo escrever tão seguidamente estas palavras mas é a verdade.


E como vi num livro do José Luís Peixoto, em duas páginas li unicamente a palavra quero morrer. Mas da forma como estou só vou pedindo a Deus, com a minha caneta preta na mão, deixa-me morrer. Deixa-me morrer, deixa-me morrer, deixa-me morrer, deixa-me morrer, deixa-me morrer, deixa-me morrer, deixa-me morrer, deixa-me morrer, deixa-me morrer. E tenho de escrever mesmo estas palavras, os meus dedos já me estavam a começar a doer por estar a fazer o mesmo movimento no teclado, as mesmas teclas a serem pressionadas. Quero morrer para acordar como novo e sinto que estou nesse processo. Deixa-me morrer sem ninguém ao meu lado, faço este pedido mais especificamente para não levar nenhum corpo ao meu lado, basta os meus ossos e o meu corpo – a caraterística que um amigo meu me apontou sempre nos meus textos, que falo muito sobre ossos e sangue. Quem sabe, não é? Não escrevo há muito tempo e espero não continuar assim mas tenho a certeza de que esta paragem me vai fazer bem, todas acabam por fazer.

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