Já não escrevo há tanto tempo e, por vezes,
tenho a certeza de que perdi a prática e as palavras perderam o sentido no meio
dos meus pensamentos. Ou escorrem pelo cano, nas horas em que coloco o chuveiro
na minha cabeça, ou fogem da miséria dos meus olhos castanhos ao brilharem por
estares à minha frente. Sobre ti escrevo em primeira pessoa, sem medos de
entregar as minhas palavras, as minhas mãos, as minhas unhas roídas, os meus pés
recheados de cortes dos sapatos apertados. O amor é entregar a perfeição e a
imperfeição do ser humano, canto-te aos ouvidos por não saber o que é berrar
por amar. Já não escrevo há algumas semanas e sentia essa ausência, apesar de
estares a preencher o meu coração. Posso cantar pelas quatro paredes da minha
casa e mesmo assim só te ias rir. Por isso ou pela minha invenção esta noite.
Não foste tu que sorriste para mim quando decidi colocar a minha cadeira ao meu
lado, só para apoiar a minha mão esquerda? Nos limites do nosso existe um
infinito, deixa-me explicar-te isto para entenderes melhor o que quero dizer,
tenho a impressão de que não compreendes. Existe um infinito quando penso no
nosso amor: quando coloco a minha dedicação a ti, não consigo pensar em
números, quantidades. Medições quando a matéria diz respeito a componentes do
coração? Oh, nunca amar foi tão perfeito e brilhante aos meus olhos.
Não escrevo há tanto tempo, só pela simples
razão de querer aprofundar um pouco mais os meus sentimentos por ti. Há uma
entrega idealizada e em tons cor-de-rosa nos primeiros meses, um lidar com a
rotina e o amor certo quando o tempo escorre pelas mãos de duas pessoas e, no
final, a promessa de permanecerem juntos por toda a eternidade. Talvez só tenha
experimentado a primeira entrega antes de me entregar à tua alma. Pergunto-me
todos os dias como não consegui perceber a tua beleza quando te vi a primeira
vez. Ou talvez tenha sentido, por o meu coração não se ter calado desde o primeiro
dia do ano. Os meus órgãos não pararam até as palavras desenharem os nossos
corpos, numa primeira instância. O amor é entregar a perfeição com um toque de
imperfeição para dar brilho aos lábios. Berro para os meus sentidos: Onde estiveste toda a minha vida? Vivi
tantos anos sem te ter aqui, nos meus braços e dentro dos meus olhos castanhos.
As palavras nunca estiveram perdidas dentro da minha existência, cada vez
mais tenho a certeza, nas minhas entranhas, de estar a destruir as minhas
fraquezas e os meus limites e catalisar, dentro do meu coração, uma nova visão
no ser humano.
O meu coração renasceu dentro dos teus
pulmões, recheados de fumo pelos cigarros que injetas todos os dias ao
acordares e adormeceres ao meu lado. Ao meu lado, ao meu lado, ao meu lado.
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