Entrei em
ti, nas tuas águas, para fechar os olhos e parar um pouco a respiração. Não era
essa a intenção inicial, ao colocar os pés nas águas do teu mar, mas é a conclusão
a que chego neste momento. O fogo, capaz de circular nas minhas veias, parou e
o meu coração dá-se por vencido. Escrevi um disco, um livro, tudo para ti
quando devia ter deixado a minha caneta em cima da secretária, sem gastar
dezenas de litros de tinta negra como fiz. Às tantas polui o mar por ter andado
a escrever em grande quantidade. As tuas ondas acolhem-me num passado distante.
Remexem em todo o meu corpo, retiram-lhe temperatura e desejam enrolar-me para
não conseguir respirar. O teu interior nunca esteve tão revoltado. Nunca
sonhaste em acolher-me na tua profundidade. São duas hipóteses que tantas
vezes aparecem na minha mente, na minha alma. Entrei em ti e as tuas ondas
acolheram-me. Mergulhei e nadei nas águas límpidas que me ofereceste, sem me
aperceber que as minhas lágrimas tornavam as águas turvas, sem qualquer brilho
ou cor. O azul límpido deu lugar a um cinzento turvo e nunca mais consegui ver
as rochas, os seres vivos e os restos dos barcos afundados na tua profundidade.
Entrei em ti para agora
estar deitado nas areias e ouvir, unicamente, o som das tuas ondas. Não sinto
os raios solares como deveria, faltam dois dias para o Verão, e tenho uma
tempestade dentro de mim. Trovões, vento e nuvens revoltadas a penetrar em mim
há meses e meses. Quero entrar novamente para me afogar mas tu nunca vais
deixar. Ou já não me amas?
1 comentário:
gosto
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