Aos poucos, aprendo o ver os significados da
palavra amor. Essa palavra que resiste à passagem do tempo, à
destruição dos mundos, à morte de personagens vivas e determinadas para a nossa
existência. É uma palavra capaz de se tornar em ação. Pelo pequeno-almoço que
costumamos tomar juntos, pela quantidade de pizza
e coca-cola que vamos colocando dentro do organismo – e só nós sabemos o quão
mal faz à nossa saúde – pela falta de vontade em fazer exercício físico. Sinto
amor quando olho para a tua cara, acabada de acordar depois de uma noite
recheada de álcool ou danificada graças a um dia inteiro a estudar, quando os
teus olhos castanhos contêm olheiras do tempo e das vivências. Também as
bochechas cor-de-rosa, capazes de me fazer colocar as mãos e apertar – até não
ter mais forças para tocar num recanto da tua alma.
Levanto-me da cama, mesmo antes de
chegarmos sequer a adormecer, para beber contigo uma garrafa de vinho verde e
fumar um cigarro. No
meio da nossa casa, envelhecida pelas gerações anteriores que por lá passaram e
pelo fumo que sai das nossas bocas, somos capazes de colocar qualquer jogo de
palavras em cima da mesa – é isso que os grandes amigos, companheiros de casa,
namorados de longa data fazem. No meio da sala nasce a intimidade, apenas nossa.
Uma intimidade que nos faz segurar um copo de vinho, um cigarro na outra ou a
apagar-se no cinzeiro e com conversas no caminho de Ti, de Deus, de uma
divindade. Queríamos e conseguimos dizer-Te tudo o que sentíamos, que és uma
espécie de beleza divina, enumerámos os momentos em que sentimos a tua
presença. Não te coloquei agora em letra maiúscula porque significas amor para
os meus ossos, os meus olhos também castanhos e até para os meus lábios. E
sabemos que todos os problemas, as centenas de beijos alheios que trocamos com
desconhecidos provém de uma falta de amor extrema.
Essa falta de amor leva a loucuras
interiores, pensei contigo. Não foram precisas palavras para chegar a esta
conclusão. Existem pessoas que moram nos quartos ao nosso lado com falta de
amor, à espera de serem ouvidas plenamente durante uma conversa. A gritarem
interiormente e a serem ignoradas por todo esse teatralismo e dramatismo,
nascidos no fundo de um qualquer poço – o que se encontra no lugar de um
coração. No meio das lamúrias, não consegui perceber, em conversa contigo, o
motivo por os outros terem fome e sede de amor. Arde-me a garganta quando penso
que não consigo amar ninguém, disse-me uma amiga minha há uns tempos atrás.
Talvez seja essa a sensação, não a perceciono por sentir-me feliz há algum
tempo, por ter o meu peito cheio de sangue, sensações e sentimentos carregados
de boas vivências. As caças que vemos em
qualquer bar ou no largo do nosso bairro provêm das ausências de autoestima e
não compreendo essa sensação, apenas um terço.
O que me dá mais gosto em ti é ver-te sair de
casa com um raio brilhante, mesmo nos minutos em que te apetece gritar – como aconteceu
há algumas semanas, ao notares a falta de uma das nossas garrafas de vinho
verde. Enche-me todo o peito quando usas uma cor preta, a conjugar com os teus
cabelos compridos. Orgulho-me quando falamos em Deus, quando falamos de amor.
Não sinto nem tu sentes fome de amor, lá no fundo. Pertencemos a um conjunto de
pessoas que nasceram com sorte neste campo, minha amiga.
3 comentários:
que bonito David! :)
é muito amor para um corpo só. um grande bem haja meu amigo. <3
Um grande bem haja, minha amiga que este texto é para ti e foi escrito contigo no meu pensamento.
Enviar um comentário