22 novembro, 2008

hoje foi horrível voltar à normalidade. deixar tudo impecável, como se nada tivesse acontecido aqui. limpar a roupa espalhada pelo chão e abafar o teu perfume tapando os lençóis com a colcha.
num momento de desvario, quando estavas de ventre para cima deitado na minha cama, pensei em arrancar-te o coração. deixei os pensamentos correr mais depressa que o sangue nas minhas veias e, quando dei por mim, estava deitada no teu peito a ouvir aquilo que queria arrancar.
no fim de tudo, só queria que sentisses a minha dor, a dor de nunca te conseguir amar em pleno.

15 novembro, 2008

nós morremos meu amor e hoje foi o nosso funeral.
sabes quem esteve presente?
todos aqueles que nos invejaram a vida, os que nos invejam a morte e as flores amarelas na campa.
não sei o que foi feito dos outros. os que nos amaram incondicionalmente, os que davam o corpo e a alma por nós, não sei deles.
se calhar já morreram e nós, na nossa ânsia de comemorar a vida, nem nos lembrámos de comungar a morte dos nossos amigos.
o cálice que agora bebemos é o sangue de todos aqueles que para nós viveram, e as lágrimas dos outros que ficaram em suas casas no dia do nosso enterro.
dentro do nosso copo, meu amor, não está ninguém presente hoje, neste cemitério, no dia do nosso funeral.

09 novembro, 2008

é esta dor ordinária que vai alimentando os meus dias, qual veneno camuflado.
estou rodeada de bestas que fingem amar, vermes que me fazem sentir nojo de cada sorriso que, para eles, os meus lábios esboçaram.
tu que dizes chorar a morte, és o primeiro a fazer rebentar a bomba que acaba com mil vidas.
tu que falas de amor e incutes ódio.
tu, estúpida antítese que não me digno compreender, porque te orgulhas dessa cegueira crónica?
somente
enxergas as minhas feridas quando o sangue te suja as camisas
ouves os meus gritos agudos quando interferem com a melodia suave que é a tua vida
cheiras o odor a morte quando jaz no chão tudo e todos que estão à tua volta.
só sentes o meu beijo quando a garrafa está vazia.
és tão horrível quando estás sóbrio.

03 novembro, 2008

alucinações, vertigens, pânico!
agarro com força a cortina da banheira, estou a sufocar! a espuma mistura-se com o sangue que cuspo, com as vozes de todos os vermes que me esquartejam aos poucos! o que é que se passa aqui, afinal? o grito fica entalado entre as minhas cordas vocais e o ar preso nas minhas fossas nasais. quero respirar! mil tentativas faço, mil tentativas falhadas.
estou morta na minha banheira e a água está morna.