29 outubro, 2013

Estou num lugar cheio de luz



Já não me alimento das tuas lágrimas e do teu vómito, declarado por ti por uma mera troca de mensagens por uma rede social depois do nosso fim. Decidi não realizar mais a mistura da clareza de uma água límpida e de uma substância mastigada e ácida de um órgão no meu corpo, dado a incompatibilidade que a minha alma tem com os sabores agridoces. Pode ser uma contradição dizer-te que não suporto o equilíbrio de um tom amargo e azedo nas minhas veias, sinto-me saturado disso por ter um sangue vermelho e puro nas minhas veias e o veneno que a pouca experiência de 22 anos de existência me ofereceram. Qualquer dia vou afogar-me com a minha toxicidade, ao deixar cair a água do chuveiro sob o meu corpo e sentir a acidez a subir no meu corpo por todas as maldades idealizadas e os pedidos por perdão sem intenção e força. Quando esse momento chegar, da minha morte por afogamento em terra, vou agarrar a minha garganta pelo simples gesto de dramatismo. Todo o ser humano imagina uma morte serena, com o corpo a cair aos pedaços e sem capacidades não é verdade? Onde conjugar o Alzheimer caso atinga o nosso cérebro e as nossas memórias? Imaginar uma morte perto dos 30 com um ataque de coração ou um acidente de carro? Mesmo estas duas últimas opções para uma morte precoce são dramáticas. Somos uma desgraça enquanto seres, assino em qualquer documento que contenha este facto. Berro para os anjos que descansam no Olimpo, de forma a ouvirem os meus pensamentos e as minhas atitudes.

Mas para atingir, neste momento, a limpeza da minha alma decidi não alimentar-me mais das tuas lágrimas em mistura com o vómito que libertaste ao colocar um ponto final da tua existência. Resta-me por agora um baixar de cabeça, para quem partilhou tanto da minha intimidade e do amor. Devo também dizer que não foram poucas as vezes em que senti pena da tua esquisitice – quando se trata apenas de estupidez e mania por querer a diferença estampada nos gostos e atitudes – e amar plenamente um ser humano é não sentir pena em grande parte dos acontecimentos. Mesmo não me alimentando da podridão que me ofereceste, seu idiota, ainda sinto pena de ti pela cobardia que me mostras. Os teus olhos pequenos não têm a coragem suficiente para olhar para o meu corpo, para a minha magreza extrema que um dia afirmaste amar. Gostava de dizer que te ouviria, caso decidisses falar comigo algum dia, mas isso é mentira. De podridão e escuridão num ser humano prefiro afastar-me. Acidentalmente deste um passo para entrar na minha vida e, assim, para me livrar de um outro lixo que influenciava o meu coração, foste uma bola de neve que acabou a tempo. Apresento-me como um ser renovado, capaz de amar profundamente e com ensinamentos na carteira. As minhas paixões continuam no meu coração, nos recantos dos tecidos da minha alma.


O quão refrescante é dizer que já há algum tempo que não me alimento do teu rasto agridoce, recheado de escuridão. A dor acabou há muito tempo e nunca pensei que era um desastre. Chegará o dia em que isso acontece. Sou um pleno desastre em todas as minhas ações. Entrego-me agora a um dos melhores seres humanos e sei que é o meu deus do Olímpio, com capacidade de me levar para o paraíso e aí descansar em paz. Estou num lugar cheio de luz.

20 outubro, 2013

Dentro dos meus olhos castanhos

Já não escrevo há tanto tempo e, por vezes, tenho a certeza de que perdi a prática e as palavras perderam o sentido no meio dos meus pensamentos. Ou escorrem pelo cano, nas horas em que coloco o chuveiro na minha cabeça, ou fogem da miséria dos meus olhos castanhos ao brilharem por estares à minha frente. Sobre ti escrevo em primeira pessoa, sem medos de entregar as minhas palavras, as minhas mãos, as minhas unhas roídas, os meus pés recheados de cortes dos sapatos apertados. O amor é entregar a perfeição e a imperfeição do ser humano, canto-te aos ouvidos por não saber o que é berrar por amar. Já não escrevo há algumas semanas e sentia essa ausência, apesar de estares a preencher o meu coração. Posso cantar pelas quatro paredes da minha casa e mesmo assim só te ias rir. Por isso ou pela minha invenção esta noite. Não foste tu que sorriste para mim quando decidi colocar a minha cadeira ao meu lado, só para apoiar a minha mão esquerda? Nos limites do nosso existe um infinito, deixa-me explicar-te isto para entenderes melhor o que quero dizer, tenho a impressão de que não compreendes. Existe um infinito quando penso no nosso amor: quando coloco a minha dedicação a ti, não consigo pensar em números, quantidades. Medições quando a matéria diz respeito a componentes do coração? Oh, nunca amar foi tão perfeito e brilhante aos meus olhos.

Não escrevo há tanto tempo, só pela simples razão de querer aprofundar um pouco mais os meus sentimentos por ti. Há uma entrega idealizada e em tons cor-de-rosa nos primeiros meses, um lidar com a rotina e o amor certo quando o tempo escorre pelas mãos de duas pessoas e, no final, a promessa de permanecerem juntos por toda a eternidade. Talvez só tenha experimentado a primeira entrega antes de me entregar à tua alma. Pergunto-me todos os dias como não consegui perceber a tua beleza quando te vi a primeira vez. Ou talvez tenha sentido, por o meu coração não se ter calado desde o primeiro dia do ano. Os meus órgãos não pararam até as palavras desenharem os nossos corpos, numa primeira instância. O amor é entregar a perfeição com um toque de imperfeição para dar brilho aos lábios. Berro para os meus sentidos: Onde estiveste toda a minha vida? Vivi tantos anos sem te ter aqui, nos meus braços e dentro dos meus olhos castanhos. As palavras nunca estiveram perdidas dentro da minha existência, cada vez mais tenho a certeza, nas minhas entranhas, de estar a destruir as minhas fraquezas e os meus limites e catalisar, dentro do meu coração, uma nova visão no ser humano.



O meu coração renasceu dentro dos teus pulmões, recheados de fumo pelos cigarros que injetas todos os dias ao acordares e adormeceres ao meu lado. Ao meu lado, ao meu lado, ao meu lado.