28 janeiro, 2009

-sêde canibais e engoli o excremento de que sois feitos, pois já não tereis outro prato no futuro! vergai-vos perante os factos de que vós, sim vós oh personficações da cobardia, vós sois a geração perdida. vós caminhais numa linha recta, vós não tendes um desejo ainda que pequeno de passar por curvas! vós sois passivos, tolerantes! vós não mereceis o vinte e cinco de abril que os vossos pais contruíram, se por ventura sabeis ao menos o motivo desse dia ser feriado. vós enojais-me o patriotismo e provais-me, mais uma vez, o quão desenquadrada na época eu estou. oh! porque alvíssaras da sorte não nasci eu nessa década de 70 para ter vivido de perto a música, o intelecto, a revolução, todo o sem fim de glória e respeito que inala desses tempos adversos da nossa história!
quando alguém vos disse, em vésperas de provarem um pouco da coragem que, quiçá tenha sobrado dos vossos antepassados, que não valia a pena irem, vós... vós nem por um segundo ousaram desobedecer-lhe.

20 janeiro, 2009

tenho tuberculose.
cuspo sangue da boca e com ele cuspo também tragédias clássicas a quantos males me assombram. sim, porque desengane-se quem pensa que a tuberculose é só sangue a jorrar para os lençóis lavados e por tudo mais quanto seja sítio. num dia gastam-se os anos que me foram prometidos viver à nascença e permaneço febril, venham mil panos de água do ártico que nada me baixará esta febre crónica. o amor sai-me pelos poros com a transpiração que vai encharcando o meu corpo num odor insuportável. nas minhas pernas nasceram pequenas crateras em constante actividade, expelindo aos litros de fel e amargura. as minhas unhas encravam-se na minha carne já velha, e a epiderme vai-me caindo aos poucos.
descubro que também tenho lepra.

16 janeiro, 2009

oh minha coimbra, como eu te amo minha cidade! como eu amo o odor a boémia que assalta qualquer olfato nas tuas monumentais, a eloquência com que se impõe o mármore dessas escadas faz jurar que, em tempor passados, houve poetas e médicos e advogados e gentes de saber e vaidade de nome, que as subiram e desceram na ânsia de conquistar o teu respeito, oh minha coimbra do coração! as águas do teu rio perpetuaram os amores trágicos da história do nosso portugal e oh! quantos mil moços a ti te cantaram mil serenatas que lhes enxiam a alma, oh minha cidade desigual!
o combóio traz todos os dias até ti leigos de toda a europa que te querem conhecer. chegam assustados, com uma mala enorme onde te querem enfiar juntamente com a roupa suja e os produtos de higiene e levar-te de volta com eles, para os seus países. oh santa ignorância, uma vez na torre da mais velha universidade deste velho continente, os leigos sentem-se esmagados com a tua grandeza que não se prende a hectares, é antes uma grandeza de espírito. és, minha cidade, novamente aos olhos dos estrangeiros, a coimbra da revolução, és a queima da capa e da batina, és o cravo que matou a espingarda.
no regresso, os leigos acabam por enxer a mala de sonhos e encaixar-te no coração.

06 janeiro, 2009

de ti só sei uma coisa, tu gostas de mim. de grosso modo e sem hesitação afirmo que me amas. ignoro quem sejas, quem queres ser, no fundo és só mais uma alma dentro de um corpo demasiado pequeno para nela encaixar tal sentimento.
eu não te conheço, imaginei-te budista, sim, budista parece ser uma boa opção, és budista e procuras o poço sem fundo onde se encontram as respostas às perguntas que nunca fizeste. ontem disseste-me que eu era o teu nirvana - ri-me. ri-me não por seu a primeira vez que prentendias fazer subir o meu ego nem pelo modo desajeitado e ensaiado com que me deste um beijo na testa, ri-me porque tu és ridículo e porque o amor é ridículo.
sabes, a única coisa que eu quero é comer-te as mãos.