17 fevereiro, 2014

Exílio


Leva-me ao teu exílio, às entranhas da tua caixa torácica. Num mundo escurecido por todas as construções que são elaboradas, todos os dias pela maioria dos seres humanos que se sentam nos carros e conduzem, a minha única salvação é o interior do teu corpo. Viajo a partir dos teus lábios, dos teus beijos, esses a percorrerem o meu pescoço e todo o meu corpo. Não deixo as minhas mãos escaparem dos teus lábios carnudos, os meus dedos envelhecidos pelo meu vício de roer as unhas e todas as peles. O Inverno clama pelo meu sangue, a cair dos meus dedos nos momentos em que apanho os autocarros, ao virar uma página do livro aterrador. Diz o meu nome quando passares a tua língua pelo meu queixo, antes de encontrares a minha. Não tenhas medo de levar-me ao teu exílio, ao lugar onde te refugias livremente de todas as loucuras desenhadas pelos desconhecidos. Construímos a nossa realidade com as nossas vivências e alguns desconhecidos têm o condão de nos alterar os planos, quando decidem cair ao pé das linhas do metro, dos comboios. 

No segundo dia, vimos a luz do nosso dia. Ao tocar nos teus ossos, sem o calor da luz no dia na tua caixa torácica, senti a vibração da tua voz. Permaneço nas tuas cordas vocais para te suavizar a voz, prejudicada pelo fumo dos cigarros. Tira toda a nicotina das unhas antes de me levares só para ti, continuo a fazer pedidos mesmo quando ninguém me pede a mim nem a ti. No terceiro dia, vimos o céu. Juntos.