Nunca
te esqueces de todas as palavras colocadas nas páginas do meu corpo. Soltas,
rasgadas, livres. Tento rechear as minhas páginas com adjetivos para te encantar e ressinto-me
sobre este pormenor, como se não fosse normal desejar atingir um nível de
perfeição elevado para ti. Perfeição só é alcançada por níveis. Alguns seres
humanos não conseguem alcançar nem a metade do nível máximo, pobres desgraçados
que desfazem o próprio corpo com as lágrimas que deitam fora. Outros conseguem
chegar a essa metade ou até um pouco mais do que isso e enchem os meus olhos
castanhos de alegria, com os raios solares a oferecerem vida às minhas mãos. E eu,
juntamente com outros seres humanos, tentamos chegar ao fim. Um fim bem
encostado à perfeição. Escrevo-te, com um sorriso no meu rosto desfeito pelo
vento destes últimos dias, com o cabelo enorme e por cortar. Escrevo-te com
palavras de proletário e pobre de espírito, a precisar de mais umas horas de
sono e uma ambição de ter a tua alma ao lado da minha carne. Essa sensação que
me é capaz de levar à perfeição.
Perfeição é um lugar, um recanto verde e
recheado de pássaros a cantar, uma praia sem ondas violentas e pessoas a
caminharem com um livro nas mãos. Perfeição é ter cabelos louros, uma pele
suave, um corpo intocado, é dar-te tesão quando não tenho nada mais a
oferecer-te, é tocar nos teus lábios e saboreá-los quando tenho sede. A minha
geração é a da velocidade, dos que não têm paciência e cedem aos impulsos, como
a minha amiga citou um filósofo há uns dias. A minha geração quer encontrar a
perfeição num momento em que é impossível, por não conseguirmos juntar um
pouco de dinheiro. O cigarro está sempre nas nossas bocas, o álcool nas veias e
queremos atingir, mesmo assim, atingir a perfeição. Esse lugar vazio, buraco
escuro, furacão, bairro destruído, esse Sol que ambiciono. Repito a palavra,
mais uma vez e mais uma vez.
Ao tentar
encher as minhas páginas de adjetivos e palavras corretas, consegues levar-me
pelo mais perverso e sexual de que sou capaz. A tua língua passa por todo o meu
corpo, desejo-a todas as horas sobre mim. As tuas mãos passam pelas minhas e
têm a capacidade de parar o lápis que trago comigo. É nesses momentos em que me
apetece colocar um cigarro nos lábios e acende-lo.
Sou tão
jovem para sentir este amor por ti. Sou tão irresponsável, a meu ver, para
estar tão apaixonado por ti. Especialmente por todos os centímetros da tua
alma. Mas ela não em escapa, permanece nas minhas mãos em todas as horas. Deixa-me amar-te um pouco mais, todos os
dias da minha vida tão curta. Daqui a alguns anos posso estar morto e quero ir
satisfeito, se isso acontecer.