07 junho, 2014

A perfeição dos meus dias



Nunca te esqueces de todas as palavras colocadas nas páginas do meu corpo. Soltas, rasgadas, livres. Tento rechear as minhas páginas com adjetivos para te encantar e ressinto-me sobre este pormenor, como se não fosse normal desejar atingir um nível de perfeição elevado para ti. Perfeição só é alcançada por níveis. Alguns seres humanos não conseguem alcançar nem a metade do nível máximo, pobres desgraçados que desfazem o próprio corpo com as lágrimas que deitam fora. Outros conseguem chegar a essa metade ou até um pouco mais do que isso e enchem os meus olhos castanhos de alegria, com os raios solares a oferecerem vida às minhas mãos. E eu, juntamente com outros seres humanos, tentamos chegar ao fim. Um fim bem encostado à perfeição. Escrevo-te, com um sorriso no meu rosto desfeito pelo vento destes últimos dias, com o cabelo enorme e por cortar. Escrevo-te com palavras de proletário e pobre de espírito, a precisar de mais umas horas de sono e uma ambição de ter a tua alma ao lado da minha carne. Essa sensação que me é capaz de levar à perfeição. 

Perfeição é um lugar, um recanto verde e recheado de pássaros a cantar, uma praia sem ondas violentas e pessoas a caminharem com um livro nas mãos. Perfeição é ter cabelos louros, uma pele suave, um corpo intocado, é dar-te tesão quando não tenho nada mais a oferecer-te, é tocar nos teus lábios e saboreá-los quando tenho sede. A minha geração é a da velocidade, dos que não têm paciência e cedem aos impulsos, como a minha amiga citou um filósofo há uns dias. A minha geração quer encontrar a perfeição num momento em que é impossível, por não conseguirmos juntar um pouco de dinheiro. O cigarro está sempre nas nossas bocas, o álcool nas veias e queremos atingir, mesmo assim, atingir a perfeição. Esse lugar vazio, buraco escuro, furacão, bairro destruído, esse Sol que ambiciono. Repito a palavra, mais uma vez e mais uma vez.

Ao tentar encher as minhas páginas de adjetivos e palavras corretas, consegues levar-me pelo mais perverso e sexual de que sou capaz. A tua língua passa por todo o meu corpo, desejo-a todas as horas sobre mim. As tuas mãos passam pelas minhas e têm a capacidade de parar o lápis que trago comigo. É nesses momentos em que me apetece colocar um cigarro nos lábios e acende-lo.

Sou tão jovem para sentir este amor por ti. Sou tão irresponsável, a meu ver, para estar tão apaixonado por ti. Especialmente por todos os centímetros da tua alma. Mas ela não em escapa, permanece nas minhas mãos em todas as horas. Deixa-me amar-te um pouco mais, todos os dias da minha vida tão curta. Daqui a alguns anos posso estar morto e quero ir satisfeito, se isso acontecer.