26 abril, 2011

devolvam-mo!
tragam-me de volta os lábios grossos que me tingiam as roupas e soprem de novo o hálito a cereja que penetrava a minha garganta. oh! são mil as quimeras que assaltam o meu corpo, qual mero parasita da sua epiderme. e do dorso dela, do pescoço dela, da voz dela, dos cabelos encaracolados tão dela emana toda uma sensualidade doentia que me torna uma mera vagabunda prostrada a seus pés! devolvam-me as mil harpas que ecoavam nas ruas desta cidade sempre que nela os meus sentidos pousavam. façam-me encarnar nos seus peitos arrepiados e perder-me nos seus caracóis ruivos. despejem nos desafortunados todo o seu encanto e nos mal-amados toda a sua graça. cantem mil sonetos a tamanho espasmo erótico e escrevam mil e um poemas em seu nome. mas devolvam-ma! ela é a minha efemeridade crónica! o meu ópio e o meu extâse e o meu nirvana. ela é a criatura mais bela que algum dia foi parida neste mundo!
e eu mais não sei se não desejá-la ardentemente quando os meus dedos tocam o meu sexo no segredo dos lençóis lavados.