27 setembro, 2008

ligo o interruptor e interrompo a vida - não era este o corpo que esperava encontrar! o que aconteceu à testa mármore que atraía a minha boca, como que em permanente estado febril? para onde foi a dureza do teu peito quando encostado a mim? o que queres em troca de me devolveres as tuas mãos embriagadas que percorriam as minhas pernas num acto de encontro à sobridade (que jamais encontravam)? o romance, queimaste-o?
será que não consigo ver o que se passou aqui? até quando continuarei com os olhos vendados à espera do desefecho deste impasse? encontrarei alguém que me salve de mim? ou conseguirei salvar-me de mim sem ninguém? terei que repetir os mesmos vocábulos mudos por mil vezes mais para me ouvires? ou continuarás surdo de mais para os sentires?
interrompeste a minha vida, mas nunca te darei o prazer de seres o interruptor, nem que para isso continue às escuras por mais mil dias.

23 setembro, 2008

-que recomecem.
-o quê?
-as nossas vidas.
-quando pararam?
-quando me despiste.
-tu sempre estiveste nua.
-mas agora quero apanhar a roupa que deixei espalhada pelo quarto. vamos parar este espectáculo de suor e lágrimas em que nos enclausurámos este tempo todo...e quanto tempo foi! tenho saudades das ruas daquela cidade que nos abrigavam entre risos e abraços. vamos apanhar outro combóio, está tudo visto nesta estação!
-então e os bilhetes? eram até ao fim da viagem...
-deixemo-la a meio, para onde queres ir doçura?
-estás a ver esta linha recta? ouvi dizer que lá ao fundo, por detrás daquela chaminé, tem umas quantas curvas.
-vamos até lá então, depois logo se verá.

17 setembro, 2008

louca, desgrenhada - preciso de um chá e de um beijo, preciso de descansar.
vem descalçar-me os sapatos e tirar-me a maquilhagem.
despe-me a roupa pesada, veste-me a alma com seda.
enche a banheira com água e sais, mima-me com uvas na boca enquanto, deitada na espuma de olhos fechados, juro não pensar em nada.
quero sentir que me amas acima de um orgasmo. quero que esqueças a língua e me beijes os lábios.
só não quero este cansaço. esta angústia que padece a cada fonema que atiro para os ouvidos do que afinal é só um telefone. já dispensamos despedidas, vivemos nas saudades.
foi a ausência penosa de uns braços que me envolvessem, as noites em claro no escuro de um quarto que não reconhecia, foi a rotina, a impaciência, o vício, os desgostos, os pesadelos, foi tudo que me deixou cansada, irreconhecível ao espelho do meu quarto (re)conhecido. não restou nada da moral, sou uma descomungada aos olhos da igreja, uma lunática aos olhos do mundo.
a teus olhos?- sou o que sempre fui e o que nunca soube ser com ninguém mais.
não sei que fazer com este maldito cansaço! se hei-de enfiá-lo num caixote e enviá-lo por correio azul para a jamaica ou se hei-de continuar assim, a tentar enganar a exaustão com banhos de espuma e chás a escaldar.

15 setembro, 2008

a dormir não me dói.
embala-me enquanto é dia

12 setembro, 2008

hoje dói-me o corpo e estou dorida. só me apetece atirar-me para o sofá e dizer até amanhã ao dia de hoje. menti-me, menti-te, menti-lhe, menti ao nós, ao vós, ao eles, menti nos desejos, nas saudades, nas frases feitas, nas verdades, eu menti. eu minto, eu mentirei. carrasco de mim que transporto, pecado que não suporto! vil fado que semeei!
engano-me a mim, sobretudo a ti, acima de tudo a nós, engano a vida, mais do que devia

09 setembro, 2008

pequenino...

imagino-te a nascer. a ânsia de liberdade a misturar-se com o primeiro oxigénio que inalaste naquele quarto. eras pequenino, do tamanho da minha almofada, mas as tuas mãos, oh as tuas mãos! são enormes, parecem querer embarcar o mundo num só abraço.
de repente os teus olhos abrem-se...tens um brilho ofuscante dentro de ti que até hoje não se apagou.
parabéns david, parabéns!

05 setembro, 2008

?

quem és tu por detrás do teu fantasma?
tu! oh vertigem abominável de prazer masoquista, quem és tu para além de um pronome pessoal que me faz renegar qualquer outro?
onde te meteste tu meu pedaço de sonho desfeito em mil porquês?
deixaste a tua marca a picotado entre as minhas coxas nuas e desapareceste entre os lençóis manchados de sangue e remorsos.
tu que me sussuravas ao ouvido gritos de artista.
tu que me penetraste a alma e o corpo e deixaste como que um rasto de loucura na minha insâne vontade.
tu que me impediste de voltar a abrir a chaga que por alguma razão se fechou.
tu que de entre tantas histórias de encantar lias-me aquela em que o vurmo da maldade impedia o feliz para sempre dos bons corações.
tu, eterno culpado do meu crime, quem és afinal?