14 abril, 2014

Aos bons amigos



Novos ventos fazem esvoaçar as minha entranhas em pleno Cais do Sodré. Os meus refúgios, a força representada pelas minhas velhas amizades, continuam serenos e recheados de erva, tratada por duas mãos. São as nossas mãos, todas juntas e a tocarem-se em plenas ruas de Lisboa, que revelam os nossos maiores segredos e a cumplicidade que acumulámos durante alguns anos. Os sorrisos não foram libertados em vão, deitados no meio da rua. Neste momento, em que a maioria de nós tenta encontrar um porto seguro num país tão destabilizado e ingrato para os mais jovens, sinto-nos com mais força e prontos a colocar a armadura para enfrentar políticas ameaçadoras.

Ainda não nos falta o pão, estamos assegurados por um ano pelo menos no mesmo lugar na maioria dos casos. Tenho um sorriso plantado nos meus lábios por saber que, se for necessário, vamos dar o pão na boca a um dos nossos. Somos um nosso, plantámos a nossa equação de energia ainda nos corredores daquela faculdade em Coimbra. Cidade que tendo a detestar com todos os meus condões, com todas as minhas vontades mas é a nossa cidade. Foi naquelas ruas, tão negras desde a nossa saída, que trocámos conversas, promessas ingénuas, obscenidades, perversidades e mesmo desejos sexuais, com alguma cerveja ou café a acompanhar se fosse preciso. Livros da faculdade caíam-nos pelo buraco negro das malas. Mal lhe tocávamos se for preciso mas estudávamos uns com os outros, numa camaradagem que aparece agora tatuada nos nossos caminhos.

Novos ventos esvoaçam os meus poucos cabelos castanhos e dão vida às minhas veias. O que seria de mim se estivesse e encontrar a felicidade numa ilha isolada, sem vocês, questiono-me. Existe sempre um hoje para nós, vai estar plantado no futuro próximo já que não conseguimos calendarizar os nossos desejos. Os futuros distantes não existem, as ideias concretas e seguros estão fora do circuito para nós. Mas nós estamos cá, prontos a limpar lágrimas. Sejam de tristeza profunda ou de felicidade pura.

A todos os meus bons amigos. Os que foram e os que continuam ao pé da minha alma.