27 novembro, 2013

Mas tenho receio de fechar os olhos e ter a pele enrugada (...)

É extremamente cedo para decidir o ritmo e o batimento do meu coração. Esclarecendo qualquer um que pergunta "mas não é precisamente a mesma coisa", não se trata, efetivamente, da mesma coisa. Ritmo e batimento. Batimento e ritmo. Batimento e ritmo do meu coração, nunca há duas palavras iguais nem nunca as escrevemos da mesma forma. O ressoar da pulsação no meu coração e a velocidade com que o faz. Tenho juventude nas minhas mãos, nos meus cabelos, em todo o meu corpo e sinto a minha cabeça a decidir a tua presença como fundamental na minha existência, já efetuada a permanência no meu coração. Todas as ligações com os fios e coração foram estabelecidas ao longo das nossas discussões no primeiro semestre deste ano. Somos mestres na arte do "quanto mais me bates mais gosto de ti" sem os exageros da violência agarrados a esta velha frase. Há certeza na minha alma para saber que és tu. Tu, tu e tu, suspira-me o vento gelado de novembro nos meus ouvidos e nos meus cabelos a precisarem de serem colocados debaixo de água. Não tenho escolha nem quero ter, consome-me a juventude com paixão.


Mas tenho receio de fechar os olhos e ter a pele enrugada e ausência de força nos meus músculos.


Leve criança sentada no cadeirão, anseio pela tua chegada, de comboio desde o norte do país até à capital. O ritmo e o batimento do meu coração dependem do estado do teu rosto, aniquilado por um trabalho um tanto ou quanto ingrato depois de três anos enfiado numa licenciatura nas matemáticas e a repuxar matérias relacionadas com os mercados e mais números que não compreendo na minha cabeça tão elaborada para os textos e arte. Depende dos teus olhos, brilhantes pela minha alma e por todas as minhas vibrações. Sentado no cadeirão, anseio e desejo o momento em que colocas a chave na ranhura e enches os meus lábios, sem perguntar pelo meu dia. Uma naturalidade que despejas depois da libertação do desejo. Todas as discussões começadas quase no início deste ano para se converterem no conforto dos meus braços, dos nossos músculos a acariciarem-se mutuamente sem mecânica na equação. A nossa equação tão simples e sem regras complexas neste momento. Celebramos todos os dias as nossas existências. O meu corpo a procurar uma fonte de rendimento num país tão miserável, sem condições de mandar cantar 3 ou 4 cegos, e tu meu amor, numa fonte recheada de água morna. Celebramos, beijamos, abraçamos a nossa existência numa aura de confiança, paixão e futuro misturados nos nossos pés. Assentes no chão de madeira da nossa casa.

Falta-nos uma lareira e o que nos salva são os cobertores e os aquecedores. Electricidade a circular nas nossas paredes. Amor a viajar nas nossas veias. Colidimos nas horas de prazer, enrolados nos lençóis durante os dias frios.
- Tenho frio, liga o aquecedor! - E ainda não tinhas sentido o toque dos meus lábios no teu peito e em toda a tua pele das pernas. É impossível escolher ou definir o ritmo e batimento do meu coração mas tenho em mim que és tu a minha escolha, Onde permanecem os nossos olhos? Em ti. Em mim. No teu cabelo encaracolado, doce para os meus dedos mexerem. Tinha uma ausência em escrever e hoje fizeste-me quebrar o jejum da boa forma e tradicional em escrever. Lápis, papel e tu. Junto a mim.

E permaneço no cadeirão, a ouvir a tua chave entrar na nossa porta.