15 agosto, 2009

de Rita Lucas a Ana Moreira aos vinte e dois dias do mês de julho do ano de dois mil e nove (profundamente inspirado na saudação de Álvaro de Campos a Walt Whitman),

quero que me perdoes a intimidade com que te escrevo estes versos,
sobretudo pedir-te perdão pela superficialidade da língua humana, incapaz de tornar esta tosca tentativa de homenagem à pessoa que és numa ode à personificação da beleza humana que desconheces ser.
hoje quero dizer-te que te adoro, que te admiro, que te idolatro, que te amo, talvez...
hoje quero vergar-me perante ti e esfrangalhar os joelhos na calçada que tu pisas, entrando numa procissão em tua honra que só terminará no dia da minha morte.
às vezes ponho-me a imaginar que odor terá a tua pele, o teu cabelo, a tua roupa...rendo-me perante os mil perfumes que penetram as minhas narinas, na tentativa de encontrar um equilíbrio discreto entre canela e rosmaninho.
oh meu bem, por favor, não me tomes por louca, quando violo mil telas com o perfil do teu corpo nu, não confundas este acto de amor com o ordinário desejo sexual que nele não tem lugar!
hoje pretendo desafiar a 9ª sinfonia de beethoven com recurso à oração erudita solta pelas tuas cordas vocais!
hoje quero cantar o fado de coimbra, oh! o triste fado dessa cidade de amores perpétuos, quero cantar-to à viola por baixo da tua janela!
hoje vou levar-te ao teatro, vou morrer em palco, meu amor, morrer depois de proclamar o meu delírio por ti, depois de declamar em verso todo o meu fascínio, toda a minha admiração, a minha tragédia, talvez...
oh!quantas são as vezes que me perco a olhar para os combóios e a imaginar o dia em sairás de uma qualquer carruagem e virás abraçar este verme sonhador que porá tudo o que lhe pertençe nesse abraço?
ouve-me Ana: tu sabes que eu, Rita Lucas, a hipérbole do sentir, não sou tus amiga nem tão pouco tua confidente, eu sou tua se assim o desejares, minha querida Ana. sou tua desde a raíz do meu cabelo à raíz da minha alma.
e por isso peço-te, mata comigo estes filhos da puta, estes oleosos, estes pseudo-liberais. mata comigo este mundo de gente analfabeta com canudo! vem comigo por esse Portugal fora! vem comigo dessenterrar o Eça, acordar o Camões, mandar uma piada ao Gil! dá-me a mão, Ana Moreira, façamos justiça, política e literatura com classe!
loucura, insesatez, audácia, chamai-lhe o que quiserdes!
Deus teme as consequências dos nossos actos.