31 julho, 2008

eterna bebedeira.

são eles, os teus olhos, que me prendem em mil agonias e pânicos.
vivo à sua mercê.
cada lágrima tua é água com que engano a sede.
vou enchendo a garrafa disto.
do remorso de infidáveis bebedeiras de mentiras e romance.
cada gole, cada tormento.
e agora diz-me meu amor, que é feito do barril de ti que enchi, incessante, durante mil dias e mil noites?
o que resta de cada pedaço que, estúpida, fui recolhendo de nós?
sobram gotas no fundo do copo.
e agora bebo.
bebo não para esquecer.
bebo para me lembrar de ti.
bebo para me relembrar de nós.

27 julho, 2008

morre em mim.

eis que encontro o único pretexto lógico porque continuo acorrentada a ti, qual prisioneira de um éden imaginário.
é esta demência. insensatez. cegueira.
este prazer masoquista que come e cospe as minhas entranhas tão entranhadas de ti.
não consigo limpar da minha memória gigante as gicantescas e ociosas horas de espera a que me submeteste. e em troca de quê? - questiono-te.
em troca de um aperto ternurento que só me faz jurar que o que sentes por mim é o que eu creio ser amor?
em troca dessas esmolas de fidelidade momentânea?
promíscuo,
foi cada beijo que me deste com os dentes.
cada festa que me passaste no rosto com as unhas.
cada palavra que, aos sair da tua boca, se transformava em pura e crua pornografia.
e a minha consciência odeia-me.

25 julho, 2008

.

és o apocalipse do pouco amor que ainda havia em mim.

24 julho, 2008

más fortunas.

anda, pisa o palco e esmaga o medo.
entrega-te ao declamar desses versos escritos sem razão.
grita-os.
sente-os.
vive-os.
agarra o punhal e espeta-o no ventre.
sangra.
rebola.
elouquece.
quando as cortinas se abrirem e os rostos dissimulados da plateia te enternecerem de raiva...
explode!
finge reconheceres-te no espelho.
e parte-o.
o narcisismo morre.
és tu e os figurantes.
despe-lhes a roupa.
viola-os. um a um.
ordena aos insensíveis que saiam da sala.
hoje o espectáculo é um acto de amor sobre-humano.