29 janeiro, 2012

"I like boring things" - VI












Fantasy love is much better than reality love. Never doing it is very exciting. The most exciting attractions are between two opposites that never meet.

hoje sou eu e as minhas fantasias.
vou fazer amor com algumas  pessoas, até já.

26 janeiro, 2012

Um copo de vinho,



Quando foi o último dia em que tive o mundo nas mãos? 
Embrulhado com um simples cobertor na mansão de quatro andares contínuo à espera de todos os fantasmas, recheados de promessas elaboradas em vidas passadas. Não há espaço para colocar qualquer aquecedor ou mesmo para acender as lareiras, não existe dinheiro que pague as extravagantes contas de electricidade. Os donos da casa encontram-se presos nas mais de quatro paredes (afinal, uma mansão de verdade contém dezenas de paredes e por norma alimenta-se uma história baseada na ausência de amor), as suas mãos geladas pela constante passagem do relógio biológico tocam serenamente nos meus ombros. Os meus ombros equilibrados por pensamentos com natureza filosófica e existência superficial, conotada por simples abrilhantadores, obras-primas em forma de roupas com qualidade e sem inteligência nas questões de conhecimento. São dois ombros, esta palavra que continua a ressoar nos meus ouvidos e a massajar os meus olhos castanhos, são dois que sustentam os meus sonhos, os meus desejos de suicídio e de gula, as ambições que soletram o caminho que devo tomar para encontrar a felicidade. Encontro-me embrulhado com um simples cobertor branco, para tentar disfarçar o pecado nos meus pensamentos. O frio continua a atravessar a minha pele, enrola o estômago e fere os lábios, prontos a saborear uma desconhecida ou um desconhecido. Recheado de novas sensações, vou sonhando com a chegada de novas formas de sexualidade. O amor na forma mais pura e personificado num ser humano, esse já o encontrei. E vou esperar pela felicidade ao lado dele, confiar e dar as mãos no presente (o único tempo mais próximo da realidade). As mãos fantasmagóricas dos donos da casa continuam a tocar nos pedaços de músculo, na tentativa de alcançarem os ossos. Ossos – a parte do corpo mais pesada, a agonia pormenorizada de um passado repleto de desejos anorécticos em futuro e sonhos – brancos, a cor da pureza. Quando foi o último dia em que tive o mundo nas minhas mãos?
Nunca o deixei de ter. Nos minutos em que atinjo um orgasmo, na hora em que acabo de pintar os meus cabelos (faço-o constante), nos dias em que consigo esquecer a minha loucura e distinguir a realidade da fantasia criada pelo meu cérebro. Quando seguro um copo de vinho tinto nas minhas mãos, com o olhar perverso a espiar uma orgia na casa vizinha. Dois homens com uma rapariga no meio, a aproveitar a transparência de homossexualidade, todas as qualidades destes seres do futuro (uma vez que uma parte dos seres humanos não consegue aceitar esta realidade perfeitamente comum). As mãos da jovem passam pelos cabelos dos jovens que encontram-se nos lábios um do outro, que puxam a carne feminina para eles, retirando a pouca pureza que poderia existir naquele ser. Alinhar numa orgia não é sinal de pureza, não é sinal de depravação, é sinal de satisfação. Carnal. Existencial. A mansão que me acolhe continua gelada e o meu coração entra nas chamas, enrola-se no desejo excitante de me juntar aquela orgia. O vinho tinto sabe-me a chocolate ao sentir a excitação no meu sexo (e chamo-lhe isto para ser elegante, como qualquer pessoa deve ser na hora em que está a escrever, a despejar sentimentos, o que quiserem chamar-lhe). Tenho o mundo nas mãos, não deixo de o ter. Tento enganar-me por pensar o contrário.
Escolho abandonar a mansão e dirigir-me à casa mais pobre em mobílias, em espaço e em lembranças mas rica em desejo, amor, sexo mesmo que momentâneo. Deixo o copo em cima da bancada da cozinha e quando bato à porta da casa, não há interrupção. Levam-me e os meus lábios entram naquelas sensações, acompanhando os alheios, as mãos tocam-me furiosamente. Quando é que deixei de ter o mundo nas minhas mãos? Deixei alguma vez de ter?

22 janeiro, 2012

Vim procurar o amor (à porta certa),


Vim procurar o amor à porta errada, na entrada que tantas vezes me viu apodrecer no chão graças ao álcool em demasiada quantidade nas veias. A porta que presencia de todas as vezes em que consigo sair de casa com alguma felicidade, de pouca dose para não exceder o limite máximo, para não enfurecer o coração. No dia em que coloquei tinta cinzenta no cabelo, houve alguém que mandou uma gargalhada ao lado da porta da minha casa. Colocou a mão na boca, no medo do meu olhar que perfurar a alma como raiz venenosa. Os meus cabelos cinzentos, numa tentativa de atrair os holofotes vulgares de pessoas igualmente vulgares nas ruas recheadas de pobreza, brilharam na solidão. Um sentimento que tenta encontrar sempre algum tipo de austeridade, como as pessoas tentam nos dias que correm de uma forma exaustiva. Brilharam pela simplicidade de um acto recheado de complexidade. No amor de colocar a espécie de pasta incolor nos meus cabelos, o meu sorriso foi a gravação que penetrou a memória gasta por preocupações demasiado rascas. Na prostituição em que coloco todos os dias o meu cérebro (ou será que é preciso existir uma distinção entre cérebro e mente?), lembro-me de sorrir perante a pequena mudança que estava prestes a garantir ao meu aspecto físico. Quando bati naquela porta à procura de amor, fecharam-na violentamente sem medo de ferir. Um comportamento que demorou segundos e marcou anos de existência. E os meus pensamentos são dotados de algum tipo de velocidade ou de elasticidade. Ao sair de casa, depois do acto de amor-próprio a gargalhada do desconhecido penetrou os meus ossos. A única parte da constituição humana que está mais evidente no meu corpo. O sorriso malévolo que se desenhou graças à invulgaridade de uma pessoa vulgar. Os meus medos ganharam uma amplitude (é amplitude?) ainda maior, fora da normalidade de todos os dias. O amor não apareceu nesse momento, nem veio ter comigo. O amor nasceu. Quando vieram à procura de amor na minha porta, mantive-a aberta. Disposto a receber quem aparecesse, de aspecto mais rasco ou invulgar, com um brilho fabuloso capaz de colocar sementes de inveja em qualquer ser humano. Ofereci esse amor, depois de pintar os cabelos naquela tarde. Quando uma porta se fecha, o mundo não acaba. Nem tive tempo de fazer parágrafos, “isto” aconteceu em poucos minutos. Não dei parágrafos porque não tive tempo para pensar. Demorei pouco tempo a pintar o cabelo. Não sei em quanto tempo abri a minha porta.

12 janeiro, 2012

Relembrar que (...)




(…) talvez vá sentir saudades desta vida, na minha terra, na cidade que me viu crescer plenamente. A cidade que notou a minha presença por breves momentos enquanto estudava o básico, a terra que me viu ambicionar em grande quantidade quando as escadas do ensino superior estavam à minha frente. Talvez vá sentir falta do fortalecimento daqueles laços, aqueles que me alimentaram um pouco mais o coração. Talvez vá sentir falta dos copos recheados de vinho branco ou cerveja em jantares afundados em convívio, amizade e demasiado álcool. Vou sentir falta da clarificação do espírito, das conversas interiores provocadas por estas pessoas. Pessoas que levo na minha capa (traje tão pouco usado pela minha falta de paciência). Nunca fui de mostrar a tradição de Coimbra, andei a senti-la.
O vento leva-me agora. Regressarei no futuro, o único tempo tão incerto. Deixo-me guiar pelos meus desejos. 




04 janeiro, 2012

Quando se vende a alma,



Sentia unicamente uma manta impecavelmente limpa, livre de qualquer tipo de impureza, sobre o corpo à medida que os raios solares exploravam todos os pormenores. Os olhos não desejavam alcançar a clarividência do passado, guerreiro vitorioso no derrubamento da confiança construída ao longo dos anos, peste insolente capaz de destruir em segundos, como se adquirisse a forma de sombra, negra, escura, gelada. Não existia nada à volta, nem assombrosos apartamentos, estradas, viaturas de todas as formas e feitios, nem árvores, frutos ou qualquer outro objecto animado ou sem vida ao pé do corpo enrolado. Unicamente uma brisa proveniente do “nada”, um vazio que alcançava os seus tecidos naturais e lambia suavemente as costas protegidas por aquele cobertor (ou qualquer nome que lhe queira atribuir) e também os raios solares eram os únicos exemplares de vivacidade que tocavam neste corpo, que experimentavam saborear corporalmente a vida. Mantinha-se a serenidade, a incapacidade de demonstrar movimento no vazio em que se encontrava. E uma paz continuava a inundar a alma, como se a aflição do fim do Mundo não tivesse importância. A sobrevivência em caso de alucinação é só um pormenor, o espírito encontra-se presente em todas as horas, em todas as gerações em todos os julgamentos finais.
Vender a alma em qualquer vida terrena contém um preço fatal. Entregar o coração a qualquer ser desumano com a intenção de recompensas no futuro destrói a essência, agregada a qualquer sorriso ou lábio pintado. Planear o caminho detalhadamente até ao sopro final, com a venda da alma nos inícios, equivale a morte profunda. Resta unicamente o corpo, a tecnicidade de um sorriso elaborado pelas exigências formais, a ambição vazia de qualquer riqueza (o mal de muitos rostos presentes no planeta Terra), desaparecem os pequenos saltos pelo segundo de excitação provocada por uma boa notícia, voa o acordar para combater com armas de fogo o prazer malévolo, desaparece a pureza de um comportamento solidário, como daquela vez em que entreguei dinheiro a uma vagabunda que cirandava à volta de todos os carros estacionados, com um olhar semelhante à ausência de esperança, ao pânico do dia seguinte. Aquela alma, colocada dentro daquele corpo, estava à espera do julgamento, do castigo que previra quando os guardas irromperam pela sua casa a horas tardias para qualquer cidadão normal, ignorante de todas as sobrenaturalidades que vagueiam. Quando os braços ficaram presos numa espécie de corrente, os olhos viram o demónio a rebolar no espelho, olhando pateticamente para a situação. Gaba-se silenciosamente do acordo elaborado há anos atrás, colocava a mão no peito que continha o coração de quem era preso, saco de alimento para continuar a existir saudavelmente aos olhos de todas as divindades. Não lhe conseguiam colocar as mãos mas observavam os seus passos, não impediam qualquer venda por saberem que as lições tinham de ser aprendidas, para conseguirem perceber quem eram as boas almas, onde se instalavam as podres, dotadas de insensibilidade e inteligência. Quando aquela alma foi levada, essa espécie de demónio andava à procura de um novo sujeito para enganar.
O preço tem de ser saldado em qualquer segundo, aquele corpo estático não pressente a chegada do brilho tranquilizado, sob a forma d’Aquele que todos veneram, e pelo qual nunca existiu um pouco de admiração por parte de quem está a ser julgado. O passado continuava do lado esquerdo e o futuro estava prestes a sair pela porta, cansado de todas aquelas acções, com o conhecimento do seu aspecto final mas completamente fatigado das constantes mudanças de aparência. Alheia ou pessoal, daquele que se encontrava unicamente enrolado. Sentiu pela última vez aqueles raios solares, calorosos e ternos. Quando se sentou à sua frente, colocou a alma que mais amava à sua frente. Sorriu, falou calmamente e passou a mão pela cabeça. Mas destruiu essa existência, retirou-a de todas as dimensões. Dissecou-a à frente do espírito que se encontrava no julgamento, portador de uma voz excêntrica. Soltou o grito nesse momento, como se não fosse capaz de mais nada, qualquer acção seria desprovida de sentido sagrado. O demónio enganou mais um nesse momento, matou a existência de outra personalidade ao acolher um coração alheio no peito.
Quando se vende a alma sente-se o vazio. Um nada que se apodera das veias e retira toda a força da pulsação, o preço é fatal. Talvez o julgamento seja o final.

02 janeiro, 2012

"Nos meus sonhos, encontro uma felicidade em estado puro"


Esperava pela elevação da sua voz, à medida que o sangue escorria pelas minhas costas. Um sangue quente, acabado de retirar do corpo morto, deixado na rua mais civilizada de toda a cidade. A minha máscara preta escondia uma parte do rosto, os olhos de tons azulados. A essência da alma deturpada por pecados carnais, acumulados ao longo dos anos. 
Nos meus sonhos, encontro uma felicidade em estado puro para ser despejada sobre os meus cabelos. Na fantasia desenhada pela minha mente, esses mesmos cabelos adquirem uma cor ruiva ou, na pior das hipóteses, um vermelho berrante que tem o dom de chamar a atenção a qualquer um que passa nas ruas estreitas. A fome de atenção acaba por ser aliviada em poucos segundos, os olhares desaprovadores, os sorrisos diabólicos com segundas intenções e os dedos indicadores a apontar na minha direcção saciam toda a ausência de amor que vou acumulando ao longo das minhas existências. Nos meus sonhos, consigo dar uso ao meu poder interior, espalhar um pouco de brilhantes pela rua (num drama digno de um filme rasco da série B, se conseguir ter alguma classificação) enquanto ajeito os cabelos vermelhos, não deixo que a falta de qualidade seja um dos factores presentes nestas elevações do corpo. O pathos provocado pelo sonho é muito mais eficaz do que aquele que Eisenstein pretendia com o seu cinema, ao construir técnicas de montagens com emoções à mistura de dois lados. As montagens elaboradas durante o sono ou quando se caminha na rua em pleno dia conseguem elevar o espírito muito mais além, o ser humano experimenta deixar os músculos, ossos, boca para assistir a uma acção mais promissora, pormenorizada.
Fechei os olhos e senti a carne macia dos teus lábios, com o desejo de a rasgar e triturar com a minha própria boca. Existiria algum pedaço da tua alma no pedaço destruído? Misturado com as pequenas gotas de sangue? Deixo e continuo a beijar-te, transmitindo arrepios a todas as partes do corpo, chorando de melancolia numa mistura com o êxtase. Duas sensações supostamente incompatíveis que alimentam o meu futuro suicídio. A máscara continuou no meu rosto, nesse momento trágico.
Não tenho sentido de estilo, mas tenho bom gosto. O fatal estilo que se encontra em decadência nos dias que correm graças à falta de pensamento em todos os pequenos seres, nascidos nos finais da geração de noventa e restante. Uma falta de estética, unhas roídas que arranham tábuas destruídas, corrompidas por filosofias com carácter duvidoso. Tábuas que se alimentam de tons fabricados para as massas, com um composições simples e sem grandes complexidades, que comem livros sem histórias dignas salvação. Nos meus sonhos, existe uma pureza inexplicável em todas pessoas. Uma cor saliente na pele, um toque suave em todas as mãos, uma delicadeza ao caminhar. Todas as vozes elevam-se aos céus, como se esse lugar fosse o destino final de todas as almas. Quando se escuta um canto morre-se durante alguns minutos, não são necessárias facas para cortar corações. Assassinos não são chamados, cabeças não são deixadas em cima de uma pista de dança. Nos meus sonhos encontro a felicidade que ando à procura na realidade, a emotividade ausente em qualquer coração, a racionalidade em poucas quantidades ao contrário do que se verifica. Desenho um sorriso no rosto quando chove torrencialmente. Deixo os sonhos falarem mais alto, em quase todos os momentos.
Os meus próprios desejos interrompiam a minha circulação, não sabia em que tempo verbal falar. Os meus dedos agarraram o teu pescoço e a minha máscara caiu no chão sujo. Ambiciono retirar-te a vida, sugar os sentimentos que dançam no teu corpo. Mas a minha falta de coragem é superior, viajo demasiadas vezes e não sou capaz de atirar-me contra o comboio que ressoa a sua presença com a buzina.  Os meus desejos são dinamites, todos os dias sinto-os como se fossem pequenos doces.