07 maio, 2014

Para quem já te perdeu


Houve uma época em que decidimos descansar durante alguns meses. Nessas horas o nosso espaço foi invadido por um silêncio demasiadamente perturbador, com capacidades de me deixar pouco à vontade e adepto da discussão sem mero sentido, a refrescar todos os sofás da nossa amizade. Durante todas as noites fomos assistindo à ausência da luz da lua nos nossos caminhos de ouro, tal as travessias de Oz, e nunca percebemos porque é que as nossas mãos deixaram de se tocar. Nesses meses, ouvia unicamente o eco da tua voz, numa palavra tão distante, tão provocante por permaneceres no fundo do nosso oceano. Os relógios tocavam todos à meia-noite, na passagem para um novo, e nunca ouvia os teus novos pedidos e desejos. 

Desenganem-se todos os seres que idolatram uma amizade sem deveres, sem obrigações humildes. Unicamente a solidão comanda a ausência de obrigações, por um corpo não ter responsabilidades por um outro, diferente do seu, com órgãos recheados de novo sangue e palpitações. A tua voz, minha amiga, encanta-me todos os dias, mesmo a imaginada ao ler uma das tuas mensagens. Os teus sorrisos encantam-me o espírito, nos minutos em que as ondas teimam em revoltar os meus pulmões, recheados de cinzas do cigarro na minha boca. Somos, em dias chuva, a insanidade desgarrada e os olhos recheados de lágrimas brilhantes. Para vocês que não sabem, as lágrimas brilhantes provêm de uma amizade denominada como sincera. Não há curvas nas nossas palavras, unicamente linhas retas para seguirmos sempre em frente. O vento não nos deixa cruzar o olhar com os nossos fantasmas do passado, esses que gostam de voltar às caixas que abrimos num passado tão distante. 

É tarde e tenho agora um cansaço, proveniente de um dia de trabalho, que teima em infiltrar-se nos meus olhos castanhos. Olhos que teimam a continuar a ver para ti, por ti. Somos a luz e nunca mais vamos voltar à época em que fechámos os nossos lábios e nunca mais se sentiu um movimento.

Cartas rápidas de quem perdeu amizades.