06 maio, 2013

(IV)


Querido amigo,    

Há demasiados pontos finais na vida de um ser humano. Pequenas rochas que são colocadas na existência de um homem ou de uma mulher, que atropelam e fazem tropeçar qualquer corpo. Os pontos finais ainda conseguem ser um sinal positivo na vida de uma alma, não é? Gostava de perceber como é que há tantas pessoas que conseguem sobreviver com reticências ou um ponto e vírgula, à espera que os acontecimentos continuem a desenrolar-se e no fim acabam por morrer no meio da estrada, sem acreditar no amor, no romance, num futuro recheado de luz. Mas continuo a dizer que existem demasiados pontos finais, comem o coração como se saboreassem uma tarte de morango (a cor vermelha e o sangue, a relembrar um molho ainda mais doce, contribuem para esta visão). Os seres humanos saboreiam e tiram-nos tantas fatias da tarde que acabamos por não ter nada mais para oferecer quando uma nova pessoa aparece na nossa vida. E não falo das pessoas como se estivessem sempre a aparecer às dezenas em dias, perdoa-me se não me compreendes. Mas escrevo para ti, meu amigo. Tu que sempre me compreendeste e vais continuar, tu que continuas a dar-me conselhos e a ligar ao invés de escrever quando te escrevo uma mensagem às duas, três ou quatro da manhã.

Ainda ontem rebolei das pedras do meu próprio corpo, quando a mente se desliga após um desgosto com algum ser humano, e nunca deixaste de colocar as mãos e o próprio corpo para amparar-me a queda. Quando uma amizade é pura, como a nossa, não é necessário estar sempre um ao pé de ti. Vivemos a 300 quilómetros um do outro e a nossa amizade mantém-se firme, como sempre esteve, honesta e simples. Começo a ficar cansado das outras amizades (aquelas que exigem sempre 200% de mim, mesmo quando tenho o coração destroçado), não aguento ouvir certas vozes em alguns dias da minha vida. Acho inaceitável quando as pessoas gostam de colocar demasiadas vírgulas numa amizade, para atrapalhar sempre a segunda pessoa, a suposta que amam ou idolatram. É essa elevação e exagero dos sentimentos que corroem o coração. Tenho o orgulho de dizer que não somos assim. Gosto de te falar sobre os pontos finais que colocam à minha frente, os outros que vejo fora da minha existência - nem que seja para comentar que não vamos fazer o mesmo de forma a não cair no erro – e nos finais que acontecem às pessoas que amo. Esses são os mais dolorosos, os que torcem o meu coração vermelho e fraco graças à má alimentação que faço de vez em quando.
Reza por mim, vai pensando em mim tal como vou fazer. A nossa amizade é realmente pura.

Com amizade.