31 março, 2009

que estás a comer?
gente em pó.
isso é light?
é fast-food.
posso comer-te?
querer é poder e tu queres.
mas tenho medo.
medo?
desse vício de pó e vácuo a que te foste apegando.
o pó é inofensivo.
e vai-te matando aos poucos.
eu não deixo que te prendas a mim.
mas eu quero desprender-me do eu que não se prende a nada.
não faças isso.
porquê?
far-te-ás escavo do amor.
o que é melhor?
como assim?
o que é melhor, gente em pó ou amor?
a gente em pó não te dá amor, mas o amor traz-te gente em pó.
isso é uma contradição?
não.
então porque colocaste o mas?
pode tornar-se contraditório, mas, no final de contas, pó e amor provocam uma morte lenta e dolorosa.

28 março, 2009

uma geração decadente,
estupidificada por este paradigma que é o de ficar pelo suficiente
não permitirei decerto que me conduzis em direcção a essa vossa involução que só vos trará descendentes estéreis de valores
não há como fugir ao equilíbrio.

20 março, 2009

como eu gosto do odor a sexo que entranha estas paredes. é aqui, neste lugar sem um móvel, sem um compartimento fechado que eu me apodero da tua carne virgem, que te faço meu como se de um sopro de vida te tratasses. depois, quando te vais embora, pedes-me sempre para te coser os olhos com uma agulha. invade-te uma humilhação tal que te torna incapaz de incará-los e, para que sejam apagados os teus pecados, entras de novo nessa procissão profana com gritos hereges em forma de preçes.
por vezes, dá-me vontade de te lancetar esse processo de beatificação que te está entranhado na alma, converter-te ao meu ateísmo e dissolver tudo em amor.

17 março, 2009

careca e nu, como que num orgulho mudo de mártir do qual não faz questão de acordar, jaz o corpo que um dia vós dissestes ser igual. e agora cantais vitória! VITÓRIA! embebidos numa cegueira crónica, não compreendeis que continuais a disparar e decapitar corpos doridos que não sabem ver-se ao espelho! prosseguireis o vosso movimento, atirar-vos-eis como cães aos restos de dignidade que sobra nas intrínsecas mais primitivas do ser humano. acabou! canibalismo não é amor!

05 março, 2009

o teu naturalismo fascina-me. esse teu desejo intrínseco de chafurdar no mais podre, no mais sujo, de colocar luvas de borracha e espremer o que de mais reles e mais vergonhoso tem a condição do ser humano. sim, o mesmo ser humano que esconde a merda que de si próprio sái por detrás da eloquência ordinária de palavras plagiadas, o mesmo que faz da estética tão somente um escape à sua realidade. mas, afinal, o que escondeis quando vos fechais na casa de banho? porque construís este espaço tão acolhedor e simpático se, afinal, é ali que sentais a pele nua e assitis ao vosso momento de humilhação, no qual o excremento é sugado através de mil canos cuidadosamente escondidos?
enquanto não vos aceitardes e matardes a estética jamais sabereis quem sois.