Falam de confiança em tardes de domingo com
um chá a acompanhar, colocam-se as questões sobre amores de vidas anteriores e
as várias dúvidas de quem começou ainda agora a vida e parece que a vê
desaparecer daqui a alguns anos pelos dedos. Chora-se na mesa azul de casa,
sentados à volta do sofá com o computador a passar qualquer uma das séries
televisivas mais comentadas do momento ou um simples blogue, a escorrer arte
por todos os cantos, a ser o fundo do ambiente de trabalho. Tecnologias que não
ultrapassam o valor dos sentimentos enquanto as canecas sobem aos lábios, o chá
de menta entra pela garganta em alguns minutos e as vozes elevam-se para dar
opiniões, para discutir determinados assuntos que as quadro paredes conservam.
Existe alguém que necessita de se sentar ao piano no meio da conversa, carrega
um dramatismo dentro do coração, uma saudade por aquele a quem vai sempre
chamar de amor, de predileção, de paixão. É a única maneira de expulsar
demónio, de esquecer as saudades que assaltam o coração e perturbam a mente na
partilha à mesa azul, naquele domingo à tarde. Deviam ser umas 15 horas quando
se reuniram.

Enquanto as colheres mexiam o conteúdo adocicado,
alguém mexia nos cabelos e comentava-se a confiança colocada em jogo, naquele
momento à medida que se partilhava as experiências. Pequenos contactos com
quedas ao fundo do poço, com desgostos amorosos que partiram o coração, com
sorrisos que inundaram as almas nos momentos em que a luz se tinha desvanecido.
A confiança nas palavras que eram libertadas, misturadas com o líquido
demasiadamente quente por um microondas ao fundo da cozinha. Todas as relações são baseadas nesse pormenor
que move todos os poderes à face da Terra. Onde conservam os grandes amantes a
força para continuarem a lutar pela presença um do outro, pelos beijos que
trocam, pelas fugas que planeiam para esquecer o Mundo durante algumas horas? Como
existe a troca de informações entre parceiros se um deles não acreditar nas
palavras do outro. Para onde vai o conceito de parceiro e parceira se a
confiança não correr nas veias, onde colocam os pés para dançar na sala que construíram
juntos no sábado de manhã? Movem-se montanhas, duram épocas para se conquistar
a confiança. Demoram segundos para se perder no meio do vazio. É levado pelo
vento ao mínimo deslize, mesmo sendo carregado de inocência. Um beijo alheio
rouba uma conquista proclamada aos grandes deuses. Uma mão colocada no sítio
errado do corpo leva à proteção do rosto. À medida que as colheres colocavam o
chá de menta no ponto ideal, estas pequenas ideias povoam aquelas cabeças. As
lágrimas alimentavam o conteúdo que iria percorrer os corpos humanos de vários
seres poderosos. O sal das lágrimas continha experiências, jovens na candura,
idosos no contar das gerações e épocas pelo qual passaram. Ouve alguém que deu
a ideia do som do piano parar por uns momentos. A confiança e liberdade para se
pronunciarem tais desejos estavam fortificados por uma ausência. A primeira vez
em que se confiava num sentido negativo, na ausência de perda por dizer a alto
e bom som o desejo. Parem o piano, pedia uma das jovens à mesa dentro das quatro
paredes brancas. E o silêncio percorreu todas as espinhas.
Um simples acto, diriam alguns que se trata de um ato, que
acarreta anos de processamento. De treino. Ou de simples naturalidade,
despertar de algo dentro do coração. A partir das 17, ninguém passou a olhar
para os olhos castanhos ou azuis alheios da mesma forma. Existiu preenchimento
de uma forma fabulosa.