20 outubro, 2013

Dentro dos meus olhos castanhos

Já não escrevo há tanto tempo e, por vezes, tenho a certeza de que perdi a prática e as palavras perderam o sentido no meio dos meus pensamentos. Ou escorrem pelo cano, nas horas em que coloco o chuveiro na minha cabeça, ou fogem da miséria dos meus olhos castanhos ao brilharem por estares à minha frente. Sobre ti escrevo em primeira pessoa, sem medos de entregar as minhas palavras, as minhas mãos, as minhas unhas roídas, os meus pés recheados de cortes dos sapatos apertados. O amor é entregar a perfeição e a imperfeição do ser humano, canto-te aos ouvidos por não saber o que é berrar por amar. Já não escrevo há algumas semanas e sentia essa ausência, apesar de estares a preencher o meu coração. Posso cantar pelas quatro paredes da minha casa e mesmo assim só te ias rir. Por isso ou pela minha invenção esta noite. Não foste tu que sorriste para mim quando decidi colocar a minha cadeira ao meu lado, só para apoiar a minha mão esquerda? Nos limites do nosso existe um infinito, deixa-me explicar-te isto para entenderes melhor o que quero dizer, tenho a impressão de que não compreendes. Existe um infinito quando penso no nosso amor: quando coloco a minha dedicação a ti, não consigo pensar em números, quantidades. Medições quando a matéria diz respeito a componentes do coração? Oh, nunca amar foi tão perfeito e brilhante aos meus olhos.

Não escrevo há tanto tempo, só pela simples razão de querer aprofundar um pouco mais os meus sentimentos por ti. Há uma entrega idealizada e em tons cor-de-rosa nos primeiros meses, um lidar com a rotina e o amor certo quando o tempo escorre pelas mãos de duas pessoas e, no final, a promessa de permanecerem juntos por toda a eternidade. Talvez só tenha experimentado a primeira entrega antes de me entregar à tua alma. Pergunto-me todos os dias como não consegui perceber a tua beleza quando te vi a primeira vez. Ou talvez tenha sentido, por o meu coração não se ter calado desde o primeiro dia do ano. Os meus órgãos não pararam até as palavras desenharem os nossos corpos, numa primeira instância. O amor é entregar a perfeição com um toque de imperfeição para dar brilho aos lábios. Berro para os meus sentidos: Onde estiveste toda a minha vida? Vivi tantos anos sem te ter aqui, nos meus braços e dentro dos meus olhos castanhos. As palavras nunca estiveram perdidas dentro da minha existência, cada vez mais tenho a certeza, nas minhas entranhas, de estar a destruir as minhas fraquezas e os meus limites e catalisar, dentro do meu coração, uma nova visão no ser humano.



O meu coração renasceu dentro dos teus pulmões, recheados de fumo pelos cigarros que injetas todos os dias ao acordares e adormeceres ao meu lado. Ao meu lado, ao meu lado, ao meu lado.

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