06 março, 2014

Ao mergulhares nas minhas águas



Nunca mergulhaste em mim, nas profundezas das minhas águas e nos meus encantos de espuma, superficiais como toda a espuma do mar. O Sol renasceu no horizonte e derrotou todo o frio inquietante, temperaturas de um inverno vestido com um fato de ouro, a iludir todos os crentes e sôfregos por um raio solar. Sentiam-no a brilhar lá ao fundo, em territórios longínquos, no instante em que gelava todos os ossos do corpo. Encanto-me com os teus lábios, perdidos na rouquidão do teu chamamento em dias de nevoeiro, apaixona-me a tua delicadeza em dias de tempestade. Falta-me um casaco até aos pés nesses dias, em que molhas os pés e não consegues entrar nas ondas violentas, recheadas de forças, nascidas no meu interior hercúleo. Injetas-me adrenalina em todos os momentos de discussão e de paixão. Ao passares a língua pelo meu peito, ao saboreares a minha pele e ao gritares para mim, à espera que corrija um defeito humano. Como se os defeitos não fosse humanos, num universo paralelo. Constróis uma relação ao meu lado, a mergulhares em águas desconhecidas. Passa-me a mão no rosto, prepara-me a pele moreno e os cabelos castanhos, o sal é destruidor e corrói-me a graciosidade. 

Ao entrares nas minhas águas salgadas vais desejar mergulhar de olhos abertos. Bem abertos para assimilares todos os meus recantos, os meus segredos e as mentiras escondidas no fundo de um baú, presas ao passado, arrumadas até à minha morte. Arregala os olhos para me veres, para sentires a minha respiração, o dióxido de carbono libertado, imaterial, gasoso aos olhos humanos. Os meus olhos ternos alimentam os teus peixes, as tuas águas e qualquer outro ser vivo. Cigarros, cigarros são agarrados pelas tuas mãos e colocados nos teus dedos para assimilares todo o fumo. Não te deixes poluir, o teu reino e a tua vivacidade sagaz. Entra em mim, flutua, deixa os teus caracóis dissolverem-se pelos anos ao meu lado, com a minha alma a acompanhar-te todos os dias. Dias recheados de sol, dias inundados pelas águas da chuva. Chuva cada vez mais poluída pelos carros que circulam nesta cidade horrenda e violentamente bela. Foge para a praia, quero correr atrás de ti. Abraça-me, mergulha comigo. Os dias somos nós, cada partícula do nosso corpo, cada comportamento. Os dias morrem em nós e nós morremos com eles. 

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