17 setembro, 2011

Orgasmos espirituais,

Quando a noite chegar, a minha alma vai abraçar a escuridão presente em todos os recantos de um céu possuidor do brilho proveniente das estrelas. À medida que a brisa gelada encostar os lábios no meu pescoço, a minha mão vai encontrar o infinito guardado em cada essência estrelar e soltar as lágrimas que se encontram nos meus olhos castanhos, gravados há vinte anos num tom escuro. As horas anteriores ao novo dia no calendário trazem a melancolia, um piano para os meus dedos derramarem em sangue e mancharem o tapete de gerações anteriores. Quando a noite chegar, o meu corpo vai morrer nos teus braços. O meu desejo interior não inclui individualidades, já que a minha morte não é para ser consumida num abraço próprio, enrolado em braços familiarizados na primeira ou com um peito a perder força sem um calor humano alheio. Não contém igualmente objectos fabricados humanamente como todos os cigarros que coloquei na boca, sempre a manchar todas as zonas da pele do meu rosto que, aos poucos, decidiu perder força e resignar-se ao sofrimento final: o envelhecimento. Processo proclamado por naturalista, apaixonado por filósofos e frustrados por seres vivos comuns (que contém todas as superficialidades para um combate contra o natural, um creme contra as rugas é um simples exemplo). Vou morrer esta noite, quando anoitecer, porque a morte deixou-me um recado na caixa de e-mails ao invés de ser pela caixa de correio como qualquer um aceitaria como normal ou até mesmo usual. Faltam pouco mais de uma hora e meia e não vejo como alimentar o meu espírito para culminar todos os vazios que se apoderam dos músculos das pernas, dos braços ou do peito. Especialmente o músculo essencial que coloca vida, ou energia, em todas as partes deste corpo concedido há alguns anos atrás.

Quando a alma tende a ser roubada dos ossos devido a todos os medos provocados por qualquer mudança, anoitece terrivelmente sem qualquer esperança de existir uma luz mesmo ao lado. Existem dentes dispostos a consumir a carne, na escuridão de todos os segundos, na tentativa de haver a cedência para o derramamento de sangue sem existir a plena noção desse acontecimento. À medida que o roubo de alma tenta ser efectuado existe algo superior a manter-nos no lugar, com o bom senso de alimentar-nos esperanças do que foi prometido em dias anteriores à actualidade. Essa presença superior contém a capacidade de prender-nos a uma cama, com uma mão a passar sobre os nossos fios capilares a sussurrar uma canção de relaxamento, para o coração não parar brutalmente e não derramarmos lágrimas de sangue proveniente do lado mais selvagem e malévolo da alma plantada em cada ser humano. Na tentativa de afastar a solidão, ser que continua com o lado teimoso extremamente activo e canta a todos numa bolha de água. De sapatos com salto agulhado, numa versão rasca de drag queen, a solidão maquilha-se quando todos e ninguém estão a ver. Cada canção é vomitada pelas escadas, uma vez que uma rainha que se preze se encontra no topo de toda e qualquer hierarquia social ou apenas monumental. Fala e proclama fantasias para cada ouvido, num isolamento poderoso e consumidor de qualquer sentimento proveniente de boas intenções. A divindade que nos prendeu na cama sem qualquer conforto canta-nos numa singularidade e paixão humanamente impossível com as duas mãos sobre os cabelos (de qualquer cor, nem que sejam pintados com tintas sem qualidade). A drag queen parte saltos de todas as vezes em que a singularidade bate na mesa do ambiente, evidenciando a sua força. E toda a rainha (que realmente não possui esse estatuto para os olhos alheios) que não se encontra na melhor forma, foge violentamente e magoa terceiros ou quartos pelo caminho. Quando anoitece, Deus encontra-se com um olhar recheado de amor puro ao incidir na nossa alma, que vai tão para lá do corpo que concedeu a cada um. Há vinte anos atrás, nunca me esqueci dos seus olhos brilhantes quando me criou e tornou num feto para nascer novamente. Neste momento os medos são quebrados e a minha alma mantém-se no mesmo sítio, sempre ouvi dizer que atenção é das melhores características quando a divindade encontra o ser humano em momentos de crise. Vai ser a minha vez de cantar quando Ele voltar para o lugar de origem, desconhecido para todos os que possuem um corpo humano no preciso momento.

Quando anoitecer, vou morrer. Em qualquer hora vou sentir uma brisa quente nos lábios e nos olhos, a protecção da minha visão inteligente e aprofundada da experiência que me alimentou e foi ganha em tantas horas diferentes. Os meus braços mantém-se no mesmo lugar, na cama que sem me aperceber transformou os lençóis em ouro e lágrimas em água fresca, indispensável para a minha garganta com cordas vocais deformadas e a precisar de treino rigoroso. Esta noite, a minha alma atinge o êxtase e morre num orgasmo espiritual.

2 comentários:

Penélope disse...

E na escuridão da noite sua alma poderá fazer grandes descobertas...
Que belo isso!!! Abraços

Anónimo disse...

Sempre intrigante...