07 outubro, 2011

Os bastidores - I


Os bastidores estão guardados para as pessoas que caminham com o coração nas mãos, quando o peito não é capaz de acolher carne em demasia com as veias a encherem a uma velocidade alucinante. Os grandes problemas provocados por estas pessoas são os choques com outras do mesmo tipo, no meio da rua ou num transporte público, desastrosos e sinalizador de sarilhos prestes a chegar devido às feridas (quem sabe também as futuras) que o músculo irá recolher. Ao invés de uma mala saída de uma das lojas mas refinadas e populares do país, transportam o coração como se de um acessório se tratasse e posso dizer que cuidam desse pormenor como se fosse a própria vida, uma vez que os abutres estão dispostos a roubar a carne ao virar de uma esquina ou num simples bar por volta das duas da manhã (na hora em que o álcool estiver a circular por todos os órgãos, pobres coitados que já entraram em falência). Tal como alguns que incitam à moda de vestidos e roupa de carne, curada e tratada antecipadamente, outros transportam o coração nas mãos e o pobre acessório não consegue levar a carteira ou algum livro abandonado para ser devorado nas horas vagas.
Quando os saltos altos se fazem sentir numa sala recheada de estilos ou um simples brilho proveniente de um ser humano alheio ofusca a dezenas de metros, a insegurança invade este tipo de personagens. O coração pode ser queimado, danificado por quem se atravesse no caminho, pelos sorrisos que rasgam a pele de quarentonas ou quarentões (levando aos dentes de carnívoros em roupas vintage e extremamente caras, com a etiqueta a balançar no vestuário se for preciso). O órgão que não cabe na caixa torácica de diversos seres humanos é perigoso de uma forma inocente, capaz de esguichar um pouco de sangue para os vestidos quando alguma emoção extraordinariamente poderosa se faz sentir, quando uma lágrima escorre pelo rosto ou o arrepio que soltou ao visualizar uma obra de arte. As unhas pintadas destas pessoas, possuidoras de uma alma, ficam ainda mais vermelhas pela libertação de líquido quente indesejado. Os bastidores são bons para elas, que gostam de perfeição e de comandar um bom espectáculo de arte, música e quem sabe, até de moda.
O amor não bateu à porta. Quer dizer, bate todos os dias e sinto-o aqui dentro. Talvez seja por isso que mantenho o coração protegido na minha mala, numa caixa de vidro, para nenhum corvo decidir atacar-me solenemente, levando-me numa fatalidade desejada. Querido leitor, estou a sonhar demasiadamente alto. E talvez os bastidores sejam para mim. Não fazem ideia do brilho que podemos obter nas cabines. É pena os meus sonhos levaram-me mais longe, com eles está a ambição. Percebem?

1 comentário:

Herético disse...

foda-se, porque é que nunca li o teu blog antes? *-*