15 março, 2012

O coração de metal e a santidade,


Um coração de metal e um cinzeiro são os dois objetos que faziam falta no meu corpo e na igreja em que me sentava, respetivamente para não existir uma certa confusão nas vossas cabeças. Tenho sempre a mania de escrever, deitar palavras para o ar em primeiro para satisfação pessoal e em seguida para a segunda ou terceira pessoa, com uma paciência equivalente a santidade para continuar. Um coração de metal para ninguém o aceitar e um cinzeiro para colocar mais um dos meus prazer num local de adoração, de tranquilidade para os mais crentes. Sentado num dos bancos, sem ferir os joelhos, sinto-me a olhar para Jesus Cristo (uma imitação com valor monetário para os mais pobres de espírito e ambiciosos por objetos alheios) com um cigarro na boca, a fumar e a entregar a minha alma aos pecados. Os pecados são tipicamente humanos, pergunto-me se todos os santos nunca cometeram um único. Desejos de carne vão florescendo no meu interior. Preciso de um pequeno controlo para não seduzir a mulher, dona de casa, sentada num dos bancos com um terço nas mãos e um decote a gritar aos meus ouvidos os pedidos de paixão, ou então o homem com um rosto petrificado pelo medo, com fato e gravata e um historial de traições no casamento que rebentariam com qualquer moralista.  
Nunca vou ser suficientemente bondoso, humano para ser colocado numa cruz. Não vou deixar o mundo de pecadores para me santificar e purificar todos os litros de sangue que correm no meu corpo. Um coração de metal para alojar na cavidade húmida e um cinzeiro para apagar o cigarro. Não sinto a santidade na minha mochila, que me acompanha todos os dias.

Sem comentários: