13 outubro, 2012

I'm all the fishes in the sea


Seek me out.
Look at, look at, look at, look at me.
I'm all the fishes in the sea.


Com uma chávena cheia de café ao meu lado não tenho qualquer tipo de problema em admitir que me encontro numa felicidade extrema. Um tipo de felicidade que me faz querer descansar profundamente, desejo esse que tenho elaborado ao nível artístico. Na idade dos vinte e um (extremamente jovem, como muitos fazem questão de salientar) já devia ter um pouco mais de juízo, não devia dar ouvido a algumas incertezas que por vezes ousam e teimam em marcar os meus batimentos cardíacos. Não diria que qualquer Homem pudesse afligir-se com sensibilidade - quando colocada em dose exagerada num corpo humano - e sou a primeira prova dessa sensação. Preocupo-me por deitar lágrimas criadas na aura da felicidade ao invés da profunda solidão, ao qual estava habituado nos últimos meses.

As palavras libertadas por um corpo colocado ao fundo do poço, deitado fora por mãos alheias, são mais carregadas de sentimento, de vivência, de profundidade. É essa a condição de todos os artistas, nunca ouvi falar de uma alma extremamente certa, correta e recheada de felicidade a lançar grandes obras literárias - ou então trata-se de uma falta de cultura (talvez seja) - com os raios solares a brilhar nos fios capilares e nos dentes extraordinariamente brancos. O café arrefece na chávena, as palavras continuam a querer sair dos meus dedos e o meu coração continua a bater solenemente por estares neste momento longe de mim. Longe geograficamente, perto espiritualmente. Penso cada vez mais em escrever uma obra-prima sobre a felicidade, a questão que poucos fazem: o que acontece quando se encontra a felicidade, mesmo que essa seja momentânea? Até agora tenho encontrado pedaços desse estado de espírito, normalmente ligados com uma data de validade - como os iogurtes, acabam por azedar depois de um mês - mas apareceu uma alma que teima em continuar ao meu lado, a querer ver os meus defeitos. Os curtos, os extensos, os grandes e pequenos. Quando estou com a tua alma teimo em roer as unhas, em retirar um pouco da minha beleza. Com os dedos recheados de sangue, bebo um pouco de café para acelerar os fluxos da minha alma. É condição de um artista ser belo em dias negros? São tantas as questões que comem o meu coração e tu teimas em ficar comigo. O café queima-me a língua, não o faz às alcoviteiras da minha terra. Essas que gostam de lançar os olhos negros para as minhas andanças, mesmo que suba para uma motorizada e chegue aos 200 quilómetros por hora para ninguém me ver.

Apaixonei-me há algum tempo, tenho a dizer. Não fugi do sentimento quando o senti nas minhas veias, como estava acostumado a fazer. Quis beijar-te, sentir os teus lábios nos meus e a tua língua na minha boca quando comecei a ficar sem oxigénio depois de olhar para os teus olhos claros. Aconteceu-me isso naquele ambiente de festa, em que o calor humano - as chamadas hormonas - andavam pelos ares na capital portuguesa, no Terreiro do Paço. Naquelas luzes em que não quis largar a tua mão, com receio de me perder de ti no meio de centenas de seres humanos. Mesmo quando tudo se resumo a um nós tenho esse receio que invade o meu peito - o de me perder de ti. Todos os meus sorrisos equivalem a uma troca de palavras deste medo - o de me perder contigo - isto escrevo-o nos recantos da minha alma, na minha imaginação assexuada. Com as minhas mãos a rodear toda a chávena branca, sinto o vapor a beijar os meus óculos azuis, a escreverem declarações de monotonia, essas que não pretendem ficar nas minhas ações. Tenho uma aflição cada vez maior com a minha sensibilidade, com as lágrimas de que liberto. São lágrimas de felicidade, meus nobres amantes. Podia gritar ao vento, a minha garganta já estaria morta por esta altura do ano. Quando quis beijar-te no meio de todas aquelas luzes e sons fi-lo, puxei-te para mim e bati palmas aos meus desejos. Apaixonei-me por ti a partir desse momento, um pouco antes ao sentir vontade de pegar na tua mão e levar-te comigo pelas ruas da Bica.

Eras quem desejava conhecer há muitos anos. Não vou conhecer ninguém que me traga tanta felicidade como tu me trazes neste momento, depois de tantos meses a curar-me, a aprender novamente a amar os meus próprios cabelos castanhos, as minhas doces cicatrizes espalhadas pelo meu corpo anorético, consegui redescobrir o antídoto para o único tipo de felicidade: o que me torna louco, livre, belo e altruísta. Bebo o meu café, saboreio com a minha língua ao passá-la pelos lábios e digo-te para procurares um único peixe no oceano - ao contrário da pequena frase que coloquei ao início da minha divagação. Procura um único peixe dourado no meio de todo o oceano porque é esse que amas. Terminei o meu café e vejo-te à minha frente. Vou viver mais um pouco.

2 comentários:

Anónimo disse...

A propósito da sua tenra idade e da sua profunda solidão, agora, parce-me quebrada, conhece " Cartas a um jovem poeta" de Rainer Maria Rilke? Recomendo. Chamo a atenção para o texto sétimo.
Comtinue a escrever...

David Pimenta disse...

Por acaso não conhece mas vou investigar, agradeço a recomendação.
Obrigado pela força, continuarei a escrever.