03 outubro, 2012

Um apontamento sobre os possíveis regressos,


Se existe uma paragem em qualquer criação de arte, mesmo as progressivas, significa que tenho à minha frente um bom caminho em questões do coração. Trata-se de uma lavagem nos olhos, nos cabelos castanhos, nos lábios degradados graças à nova vaga de frio que sinto ao ir para as aulas às seis da tarde. É uma purificação de todo o meu corpo, esse que se encontra enrola pela minha alma e traz uma nova dimensão à paragem que desenho neste momento às minhas palavras, às personagens que revivem na minha mente todos os dias. A mensagem tem os dois lados da moeda: o bom – o excecional – por ter uma alma brilhante em todos os dias da minha vida, o mau por um artista ganhar toda a sua força nos momentos trágicos, no drama, ao sofrer um derrame no coração. O coração, esse brilhante músculo que tantas vezes já foi tema das minhas longas “palestras sobre o viver bem, ter um relacionamento estável e ter um sorriso no rosto” – essas longas palestras que não davam em nada de ser escritas por não ter dados em concreto, por sentir o frio de um abandono voluntário nas minhas veias.

Esse abandono que não vai existir. Encontra-se inundado de dedicação, de mãos fortes, de cabelos pretos. Esses cabelos pretos que me enrolam as veias e asfixiam-me por não aguentar as famosas borboletas no estômago. Os lábios pequenos que me consomem a cada dia que passa, a cada nova promessa que é libertada durante a tarde. Abdico da minha condição, a minha paixão pela elaboração de história, se te tiver no fim. No fim de uma vida terrena, de uma existência finitiva. E peço, peço todos os dias para que o vivo neste momento seja eterno, que esteja à tua espera quando partir – tenho esta sensação de que vou falecer não muito tarde, chamem-me de louco! Se existe uma paragem é sinal de que o fado alcançou o meu coração. É necessário um novo chamamento, meus caros. Estou a amar, estou a amar – gritei três vezes à janela do meu quarto na grande cidade. 

2 comentários:

Anónimo disse...

Afinal voltou!?...
Ao ler este seu texto sinto um rasgo dentro de mim, identifico-me com algo que a dado momento escreveu...

David Pimenta disse...

Afinal não vou deixar de escrever neste espaço, de certeza. E agradeço as suas palavras. É bom pensar que houve identificação com algo que escrevi.