Se existe uma paragem em qualquer criação de
arte, mesmo as progressivas, significa que tenho à minha frente um bom caminho
em questões do coração. Trata-se de uma lavagem nos olhos, nos cabelos
castanhos, nos lábios degradados graças à nova vaga de frio que sinto ao ir
para as aulas às seis da tarde. É uma purificação de todo o meu corpo, esse que
se encontra enrola pela minha alma e traz uma nova dimensão à paragem que
desenho neste momento às minhas palavras, às personagens que revivem na minha
mente todos os dias. A mensagem tem os dois lados da moeda: o bom – o excecional
– por ter uma alma brilhante em todos os dias da minha vida, o mau por um
artista ganhar toda a sua força nos momentos trágicos, no drama, ao sofrer um
derrame no coração. O coração, esse brilhante músculo que tantas vezes já foi
tema das minhas longas “palestras sobre o viver bem, ter um relacionamento
estável e ter um sorriso no rosto” – essas longas palestras que não davam em
nada de ser escritas por não ter dados em concreto, por sentir o frio de um
abandono voluntário nas minhas veias.
Esse
abandono que não vai existir. Encontra-se inundado de dedicação, de mãos
fortes, de cabelos pretos. Esses cabelos pretos que me enrolam as veias e
asfixiam-me por não aguentar as famosas borboletas no estômago. Os lábios
pequenos que me consomem a cada dia que passa, a cada nova promessa que é
libertada durante a tarde. Abdico da minha condição, a minha paixão pela
elaboração de história, se te tiver no fim. No fim de uma vida terrena, de uma
existência finitiva. E peço, peço todos os dias para que o vivo neste momento
seja eterno, que esteja à tua espera quando partir – tenho esta sensação de que
vou falecer não muito tarde, chamem-me de louco! Se existe uma paragem é sinal
de que o fado alcançou o meu coração. É necessário um novo chamamento, meus
caros. Estou a amar, estou a amar – gritei três vezes à janela do meu quarto na
grande cidade.
2 comentários:
Afinal voltou!?...
Ao ler este seu texto sinto um rasgo dentro de mim, identifico-me com algo que a dado momento escreveu...
Afinal não vou deixar de escrever neste espaço, de certeza. E agradeço as suas palavras. É bom pensar que houve identificação com algo que escrevi.
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