17 abril, 2013

Ausência (II)



Gostava de aperceber-me das minhas ausências. Para com a escrita, para com as pessoas, com as viagens, com os lugares ou até mesmo com os objetos já que existem horas em que todo circulo embate no meu corpo mas deixem-me explicar. Imaginem um pequeno ponto dentro de um círculo, com uma seta a rodar sempre na mesma direção, em voltas infinitas. Mais uma volta, o ponto negro no meio do nada em que necessita de tocar em novas almas, tecidos completamente reluzentes deixados num qualquer lugar abandonado, cheiros de cabelos castanhos, ruivos ou louros para ativar as sensações. Uma segunda volta e mais uma e uma outra, num constante movimento à medida que o ponto continua parado no meio. Tinha gosto em aperceber-me das pequenas ausências, na minha condição de ponto final no meio da folha branca e encurralado pela linha circular com uma seta no início (ou será no fim, pergunto aos botões das camisas que costumo vestir quando acabo de tomar um duche). Ao observar as voltas da única linha, transportadora de todas as experiências a passar ao meu lado, não tenho olhos castanhos e perfeitos. Sinto-os unicamente brancos e coloco as minhas mãos para sentir a minha própria, carregadas de experiências e sensações individuais. O individualismo, tão presente em todos os seres humanos.

Passam-se semanas e vou absorvendo todo o vento que as voltas da seta me transmitem, unicamente uma sensação gelada ou quente, depende sempre do tempo que se faz sentir na rua. (Dou as minhas vénias pelo aparecimento do Sol e do bom tempo, a relembrar a primavera do ano passado). Gostava mesmo de me aperceber das minhas ausências para não fazer tão mal aos meus pulmões ou às minhas cordas vocais fortes, prontas para gritar. Estou à espera do sinal, de qualquer coisa com origem nas pessoas, nas viagens, nos lugares ou objetos que tenho guardado em casa. A queda de um livro nos meus pés ou na minha cabeça. Mas talvez não precise de um comportamento tão banal, as minhas cordas vocais a qualquer momento vão explodir em segundos e começo a dançar para as paredes do meu quarto observarem e colocarem um sorriso. A linha, com uma seta no início, vai virar-se na minha direção e perfurar o meu corpo. Agora limito-me a absorver e a descansar nos meus lençóis brancos, com algumas lágrimas e gargalhadas pelo meio. Apercebo-me, ao despejar um pouco da ausência e gelo, mesmo nestes dias primaveris.


Deixa-te de merdas, por favor - digo para mim mesmo.

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