19 junho, 2013

Aprender algo com o passado dentro das ondas do mar


Entrei em ti, nas tuas águas, para fechar os olhos e parar um pouco a respiração. Não era essa a intenção inicial, ao colocar os pés nas águas do teu mar, mas é a conclusão a que chego neste momento. O fogo, capaz de circular nas minhas veias, parou e o meu coração dá-se por vencido. Escrevi um disco, um livro, tudo para ti quando devia ter deixado a minha caneta em cima da secretária, sem gastar dezenas de litros de tinta negra como fiz. Às tantas polui o mar por ter andado a escrever em grande quantidade. As tuas ondas acolhem-me num passado distante. Remexem em todo o meu corpo, retiram-lhe temperatura e desejam enrolar-me para não conseguir respirar. O teu interior nunca esteve tão revoltado. Nunca sonhaste em acolher-me na tua profundidade. São duas hipóteses que tantas vezes aparecem na minha mente, na minha alma. Entrei em ti e as tuas ondas acolheram-me. Mergulhei e nadei nas águas límpidas que me ofereceste, sem me aperceber que as minhas lágrimas tornavam as águas turvas, sem qualquer brilho ou cor. O azul límpido deu lugar a um cinzento turvo e nunca mais consegui ver as rochas, os seres vivos e os restos dos barcos afundados na tua profundidade.

Entrei em ti para agora estar deitado nas areias e ouvir, unicamente, o som das tuas ondas. Não sinto os raios solares como deveria, faltam dois dias para o Verão, e tenho uma tempestade dentro de mim. Trovões, vento e nuvens revoltadas a penetrar em mim há meses e meses. Quero entrar novamente para me afogar mas tu nunca vais deixar. Ou já não me amas?