12 outubro, 2008

perdoa-me, mas estou saturada. foram demasiadas noites à tua espera no sofá da sala, de unhas pintadas e robe vermelho, dois copos de whisky e um maço de marbolo lights por cima da cabeçeira. quiçá em vão cada hora, madrugada a dentro, à escuta do som da chave na fechadura do meu apartamento.
mas agora estou a envelhecer, meu amor, a vida já não me permite que goze as minhas madrugadas numa odisseia de lágrimas. as minhas costas estão de ressaca e os lençóis nos quais tinhas entornado uma chávena de café foram para lavar.
quando voltares, ao bom estilo de nómada-revolucionário, já terei comprados outros, mais brancos que estes e com uma renda azul.
no entretanto, o sebastião morreu. passou os seus últimos dias a encher-me a casa de pêlo e a deixar o odor inconfundível de chichi de gato na carpete do escritório. chorei muito, mais por mim do que por ele, e agora tenho que aquecer um saco de água quente antes de me ir deitar.
há meses que não me respondes às infinitas mensagens que te deixo no telemóvel. pode ser que um dia destes me batas à porta, porque já perdeste a chave até lá, e eu me esqueça das mil noites em que fumei o maço inteiro e bebi o gelo do whisky que não deitei no copo.

1 comentário:

David Pimenta disse...

Mais um pequeno tesouro para guardar. Fantástico companheira :D


(Agora ando mais dado às noticias e críticas do mundo, são fases).

<3