03 dezembro, 2011

Na sombra do coração,

Esconde-te na sombra do meu coração, para não te encontrar, para não te amar mais uma vez. Esse sentimento repleto de complexidade, de raízes terríveis, não me deixa viver. Não existe a possibilidade de respirar tranquilamente ou de cortar os pulsos com toda a dignidade. Há uns dias não consegui colocar a corda na pele do meu pescoço, não tive coragem suficiente para atirar-me ao mar violento naquele dia recheado de nuvens enraivecidas, não ganhei capacidade de engolir dezenas de comprimidos devido ao peso do meu coração.
Pesou tanto nos segundos fatais que me puxou para trás e trouxe oxigénio de volta aos meus pulmões, parados pelo perigo da paixão e pelas turbulências dos fascínios alheios a qualquer racionalidade. Os meus olhos costumam devorar beleza física num primeiro momento, antes da boca abrir para explorar terrenos longínquos ao olhar humano. Falta-me riqueza de emoções ou então talvez a tenha em demasia - quem sabe, nestes dias tenebrosos? O meu coração pesou tanto nos segundos fatais que acabei por voltar atrás na decisão de terminar com os meus sonhos, de cortar as asas e nadar no meu sangue.
Não te guardo nas sombras do meu coração, tenho demasiados retalhos, escadarias e varandas construídas com desilusões e mágoas ao longo do tempo. Não te guardo nas sombras, coloco-te no lugar mais exposto ao Sol, ao calor da minha felicidade. Sinto os teus pés aconchegados em alguns dos meus músculos e enrolados em qualquer artéria, onde circula o sangue a velocidades extraordinárias, que mantém quente qualquer pedaço do corpo humano. Não faças das minhas sombras um lugar privilegiado, deixa-me colocar-te no devido lugar, onde tantas vezes estou prestes a começar todos os fogos. A tua coroa na minha cabeça puxou-me para trás na hora em que queria deitar no esgoto a minha mortalidade. É amar, é amar em dias tenebrosos e fantasmagóricos, sem ter a ânsia de destruir o teu reino, sem ter vontade de destruir-te. Não te vejo na escuridão a partir do momento em que me sento no trono ao teu lado, não vou desaparecer quando a morte beijar o meu peito.
São fracos, os pobres de espíritos. São loucos, os extravagantes e ricos de emoções quando não sabem controlar. São vulgares, os equilibrados na alma. Vivem felizes.

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