22 janeiro, 2012

Vim procurar o amor (à porta certa),


Vim procurar o amor à porta errada, na entrada que tantas vezes me viu apodrecer no chão graças ao álcool em demasiada quantidade nas veias. A porta que presencia de todas as vezes em que consigo sair de casa com alguma felicidade, de pouca dose para não exceder o limite máximo, para não enfurecer o coração. No dia em que coloquei tinta cinzenta no cabelo, houve alguém que mandou uma gargalhada ao lado da porta da minha casa. Colocou a mão na boca, no medo do meu olhar que perfurar a alma como raiz venenosa. Os meus cabelos cinzentos, numa tentativa de atrair os holofotes vulgares de pessoas igualmente vulgares nas ruas recheadas de pobreza, brilharam na solidão. Um sentimento que tenta encontrar sempre algum tipo de austeridade, como as pessoas tentam nos dias que correm de uma forma exaustiva. Brilharam pela simplicidade de um acto recheado de complexidade. No amor de colocar a espécie de pasta incolor nos meus cabelos, o meu sorriso foi a gravação que penetrou a memória gasta por preocupações demasiado rascas. Na prostituição em que coloco todos os dias o meu cérebro (ou será que é preciso existir uma distinção entre cérebro e mente?), lembro-me de sorrir perante a pequena mudança que estava prestes a garantir ao meu aspecto físico. Quando bati naquela porta à procura de amor, fecharam-na violentamente sem medo de ferir. Um comportamento que demorou segundos e marcou anos de existência. E os meus pensamentos são dotados de algum tipo de velocidade ou de elasticidade. Ao sair de casa, depois do acto de amor-próprio a gargalhada do desconhecido penetrou os meus ossos. A única parte da constituição humana que está mais evidente no meu corpo. O sorriso malévolo que se desenhou graças à invulgaridade de uma pessoa vulgar. Os meus medos ganharam uma amplitude (é amplitude?) ainda maior, fora da normalidade de todos os dias. O amor não apareceu nesse momento, nem veio ter comigo. O amor nasceu. Quando vieram à procura de amor na minha porta, mantive-a aberta. Disposto a receber quem aparecesse, de aspecto mais rasco ou invulgar, com um brilho fabuloso capaz de colocar sementes de inveja em qualquer ser humano. Ofereci esse amor, depois de pintar os cabelos naquela tarde. Quando uma porta se fecha, o mundo não acaba. Nem tive tempo de fazer parágrafos, “isto” aconteceu em poucos minutos. Não dei parágrafos porque não tive tempo para pensar. Demorei pouco tempo a pintar o cabelo. Não sei em quanto tempo abri a minha porta.

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