19 março, 2013

Ao mostrar-te o meu amor por ti, senti a minha alma a ser sugada pelo teu beijo


Pediste-me para escrever-te o que ia na minha alma e para te enviar, apenas a ti por não quereres partilhar as minhas visões sobre ti com mais ninguém, os meus desenhos sobre os contornos da tua alma podem só permanecer connosco como em qualquer relação. É esse o meu pensamento, desejo só entregar-me a ti como nunca desejei com mais ninguém. É curioso escrever-te a ti, com a vontade de sublinhar por debaixo das palavras “a ti”, riscar e fazer traços para manter as palavras – é isso que as crianças fazem nas folhas brancas, desenham, despejam uma pequena quantidade do subconsciente e colocam a inocência no papel, essa caraterística esgotável com o passar do tempo. Ao colocar palavras num papel destinadas aos teus olhos, às tuas leituras, equivale a entregar-me como costumava fazer em oração, de todas as vezes em que entrava numa igreja. Não te questiones sobre este assunto, nunca trago à superfície da minha pele o assunto sobre a religião para não amargar a minha saliva, de forma a não ter veneno a correr por escassos minutos nas minhas veias. Pediste-me para escrever e faço-o agora como se fosses o meu livro em branco.

Tenho a fantasia de me beijares a ponta dos dedos, de colocares a língua na minha pele e manteres para sentir as pontas da minha alma. Tenho esta mania de pensar nas almas como um material quente, as fogueiras que faço na minha casa em Coimbra, a temperatura extremamente alta no meu quarto graças ao aquecedor elétrico ou a água a ferver que cai do meu chuveiro. Ofereces essa elevação aos meus comportamentos, nas alturas em que olho para o relógio e não consigo realizar mais nada – tenho demasiados projetos inacabados e tenho receio de este que te escrevo fazer parte da longa lista deixada em cima da mesa. Esses projetos materializam-se em objetos reais, colocados em cima da minha secretária ou no fundo do meu computador, aqueles documentos deixados em aberto nas pastas digitais. Não existem daqueles alertas auto programados, capazes de nos esbofetear para regressarmos às nossas palavra, às ideias, às imagens construídas por palavras em frente ao computador – não ultrapassam as palavras por não saber mexer nos programas informáticos ou em algo relacionado com a construção de websites, não sou um bicho da informática.


Bebemos a essência das pessoas, as entranhas de quem amamos profundamente. Banalizamos um gesto realizado sem uma intenção de troca. Ofereço-te as minhas palavras sem querer ouvir os gritos das transparências da tua alma, viajante através dos tempos e a planear trocas de corpos. Gostava de te mostrar a força com que acredito na teoria das viagens das almas e na fraqueza que a fé católica no meu peito, no fascínio que sinto ao pensar numa viagem da minha alma, essa que ultrapassa as minhas simples vivências e experiências terrenas, por todos os lugares imagináveis. É dessa matéria que se constroem os sonhos. Ultimamente sonho com tão pouco, a minha alma só materializa forças para viajar em paragens do meu coração, como aconteceu no início deste ano que está a terminar. Não me lembro dos meus sonhos recheados de brilho e luzes brancas e esse é um dos meus problemas, queria olhar para os pirilampos que invadem as imagens fabricadas pelo meu coração e pelo meu corpo. Esses bichos luminosos apareceram no meu inconsciente por ter a tua presença fixada nos meus ossos brancos e protegidos dentro dos meus ossos húmido. Tenho agora em mim a imagem de um sacerdote, preso em amor a um Deus maior e magnífico, a beber o sangue dentro de um cálice. De sacrifícios, de paixão ao ser humano mais desfeito. Vejo-me a beber o teu sangue, num ato de intimidade. Oferece-mo, bebemos todos os dias a essência dos outros. A minha seriedade, as expressões que saem da minha boca, os meus conselhos vestem a tua imagem, os teus comportamentos. As minhas mãos pressentem os teus cantos, a força da tua voz ao sorrir e gargalhar no horizonte. 

Pedes-me para escrever e a estas horas pressinto que termino o que tenho para te dizer. Há um Sol demasiado preguiçoso a dar-me ordens, para me recolher no meio do meu casulo construído por conhecimentos. Na era da informação, houve alguma pessoa a pensar na espécie de solidão provocada pelo conhecimento em demasia? Isso passa-me pelas veias, esse conhecimento da natureza humana, da sociologia da informação e penduro os conhecimentos como espanta-espíritos na minha casa. Ouço o barulho dentro do meu coração, esse isolamento no quarto de Coimbra. Sou suficientemente lúcido para saber que os meus amigos estão demasiadamente espalhados por todo o país – é esse o grande defeito da geografia. Tenho todo este calor por ti, por isso bebe-me, aconchega-te a mim e aos meus braços magros. É nestas alturas que gostava de ter um pouco mais de gordura para vestir-te e proteger-te de todo o frio que possa alcançar-te. Não quero ameaças, mesmo as provenientes da Natureza.

1 comentário:

Carolina disse...

"Bebemos a essência das pessoas, as entranhas de quem amamos profundamente." Gostei muito.