10 fevereiro, 2012

Às 22:22 vou sentir-me,



Não ando a sentir-me. É terrível acordar de manhã com os cabelos desgrenhados e esquecer-me de penteá-los, numa atitude inconsciente de despreocupação com pequenos actos que estavam plantados dentro de mim. Assusta o meu espírito o momento em que não consigo falar alto para mim mesmo, a reclamar desta falta de despreocupação, na tentativa de tentar melhorar. Não ando a sentir os meus músculos, os poucos que possuo, depois de tomar um duche. Uma combinação de bem-estar abandonou-me há algum tempo, como se me tivesse fugido sem deixar um aviso, trazendo o desamparo para o presente. Os cigarros desapareceram-me da boca, uma boca extremamente sedenta de desejo invisível. Os dentes talvez tenham ficado amarelos pela falta de cuidado, à medida que ia aumentando os litros de álcool que permaneciam nas veias todas as noites. A ausência das minhas mãos sobre os meus cabelos castanhos, de tom escuro, gritou à minha consciência para a mudança, o vento atingiu a minha espinha e levou a essência da minha alma. Deixei de tocar-me há alguns minutos nestas horas de vida, de atingir orgasmos para me divertir sozinho, de sair à noite para beijar alguém, com adrenalina nas acções, com a respiração violenta. Deixei de fazer amor com a mente, de despir cada peça de roupa de alguém interessante, de desperte o meu coração. A roupa extravagante nunca mais viu a luz da noite, as botas metalizadas ficaram guardados no sapateiro, os cremes que podiam aumentar a minha juventude nunca saíram das prateleiras de qualquer loja. Os meus pés encontram-se parados, a partir do momento em que não deixo o meu trabalho de lado, em que todos os extraterrestres pedem missões quase impossíveis. Não me posso queixar, são seres de outro mundo e não do submundo que aterrorizam muitos das pessoas por quem consigo ter amor. E onde pára isso? Não ando a sentir-me, não ando a sentir o bombardear do meu coração – amor meu, volta para mim, amor excitante, urgente, amável, qualquer nome que lhe posso chamar porque nos dias que correm amor é qualquer sinal de vitalidade, pensam muitos – não ando a colocar as mãos em mim, num acto de amor-próprio.
Vou andar a descobrir novos caminhos, novos tipos de sensações. Os sentimentos vão fortalecer mas vou renascer espiritual, corporalmente. Queria pintar o cabelo num tom totalmente preto, despejar litros de tinta nos cabelos se fosse preciso e não tive a coragem necessária. Mudar para sentir equivale a possuir coragem, equivale a tirar as pedras dos sapatos que impedem o percorrer do caminho. Equivale a colocar todos os medos nos baldes para a reciclagem, equivale a pintar as unhas de preto quando qualquer homem quer sê-lo com maiúsculas. Nunca ninguém pensou em alimentar fantasias do inconsciente, os primeiros olhos são menos importantes do que os segundos, terceiros, quartos ou quem sabe, quintos? É necessária uma faca, uma pequena lâmina afiada que trespasse o meu coração, rasgue pedaços da alma e me consuma.  Permaneço deitado no meu caixão, à espera do despertar à meia-noite. Quando abrir, vou deitar cá para fora as minhas composições, vou escrever sobre o que me apaixona, vou amar ainda mais quem ficou com o meu coração, é tempo de tocar os sinos. Aproxima-se o momento de sentir, cometer mais um crime de sentir. Nunca me soou tão magnificamente cometer um crime a mim próprio, vou voltar à minha essência. Vou pintar os lábios, colocar as mãos em mim. 
Às 22:22 vou atingir um orgasmo, que saudades.

1 comentário:

Poppins disse...

Tantas, mas tantas saudades de te ler. Prometo que vou voltar a este mundo. Sempre foste o primeiro blog que eu visito depois de algum tempo afastada... E obrigada por sempre me encheres o coração com as tuas palavras.

Um beijo.